A pólio continua sendo a única emergência global mantida pela OMS

A mesma comissão que decretou o fim da emergência para covid-19 e mpox – Foto: ARQUIVO/Tomaz Silva/Agência Brasil
Depois de mudar o status de covid-19 e mpox (varíola dos macacos), a poliomielite é atualmente a única emergência de saúde pública de interesse internacional mantida pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A mesma comissão que declarou o fim da emergência para a covid-19 e para a Mpox decidiu – por unanimidade – manter o status máximo concedido pela entidade para a poliomielite, popularmente conhecida como paralisia infantil.
“O comitê concordou unanimemente que o risco de disseminação internacional do poliovírus continua sendo uma emergência de saúde pública de interesse internacional e orientou a prorrogação das recomendações temporárias por mais três meses”, destacou o relatório da OMS, que considerou, entre outros fatores, a atual a transmissão da poliomielite no leste do Afeganistão se espalhou pela fronteira com o Paquistão.
casos recentes
Para a decisão, a entidade também considerou o grande grupo de crianças sem nenhum tipo de imunização no sul do Afeganistão; a importação do poliovírus selvagem do Paquistão para o Malawi e Moçambique; e cobertura vacinal abaixo do ideal no sudeste da África, Malawi, Moçambique, Zâmbia e Zimbábue, o que, segundo a OMS, significa que pode haver imunidade populacional insuficiente para interromper a transmissão.
Os casos mais recentes de poliovírus selvagem foram identificados em abril deste ano no Afeganistão e em fevereiro no Paquistão. No ano passado, a doença foi confirmada em Moçambique e, no final de 2021, no Malawi. A OMS continua atenta aos casos de poliovírus derivados da vacina oral, que contém vírus vivo atenuado para retirar a capacidade de produzir paralisia. Em crianças vacinadas com a chamada gotícula, o vírus atenuado se reproduz e persiste no intestino por cerca de seis semanas até ser excretado no meio ambiente. Esse vírus da vacina pode até atingir outras crianças suscetíveis e fornecer proteção – um fenômeno conhecido como imunidade de rebanho.
“No entanto, em locais onde a cobertura vacinal contra a poliomielite é baixa, esses vírus podem ser transmitidos em muitas ocasiões entre crianças não vacinadas ou parcialmente vacinadas. Em casos muito raros, essas transmissões múltiplas podem fazer com que os vírus sofram mutações ou alterem suas características genéticas, podendo recuperar sua capacidade de produzir paralisia. Isso permite o aparecimento de casos com paralisia derivada da vacina”, explicou a OMS.
Os casos mais recentes de poliovírus derivado da vacina foram identificados em março deste ano em Madagáscar e na República Democrática do Congo, além de outro caso detetado em fevereiro em Moçambique. No ano passado, Malawi e Congo também confirmaram casos. A OMS adverte que a retirada da dose oral contra a poliomielite do calendário vacinal de alguns países contribui para a queda da imunidade intestinal de crianças pequenas e para o consequente aumento de infecções decorrentes da vacina.
A doença
Dados da entidade mostram que a poliomielite atinge principalmente crianças menores de 5 anos. Uma em cada 200 infecções leva à paralisia irreversível, geralmente das pernas. Entre os afetados, 5% a 10% morrem de paralisia dos músculos respiratórios.
Os casos de poliomielite diminuíram mais de 99% nos últimos anos, de uma estimativa de 350.000 casos em 1988 para seis casos relatados em 2021.
“Enquanto houver uma criança infectada, as crianças de todos os países correm o risco de contrair poliomielite. Se a doença não for erradicada, podem ocorrer até 200.000 novos casos no mundo a cada ano dentro de uma década”, estima a OMS.
O Brasil recebeu o certificado de eliminação da poliomielite em 1994. Porém, até que a doença seja erradicada em todo o planeta, existe o risco de o país registrar casos importados e o vírus voltar a circular no território nacional.