Representantes de órgãos federais defenderam hoje (18), no Senado, a necessidade de mais investimentos públicos e privados em tecnologias e procedimentos que facilitem a identificação da origem do ouro comercializado no Brasil. Convidados a participar de audiência pública realizada pela comissão externa temporária criada para acompanhar a situação dos Yanomami, os especialistas garantiram que a chamada rastreabilidade do ouro, que já é utilizado em outros países, ajudaria as autoridades a coibir o garimpo ilegal em áreas protegidas. meio ambiente e em terras indígenas.
“A ciência é capaz de rastrear a origem do ouro”, declarou o diretor de Administração da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Erich Adam, garantindo que o cruzamento dos dados da Agência Nacional de Mineração (ANM) sobre a permissão de mineração com imagens de satélite já permitem identificar a eventual ocorrência de atividades ilícitas em determinadas áreas.
“Além disso, dentro do contexto pericial, é realmente possível analisar a origem do ouro com base em suas características geológicas. Ou seja, a ciência é capaz de traçar a origem do minério. entendendo a geologia [as características do terreno de onde o produto foi extraído]buscamos fazer uma análise química que nos permita trazer respostas efetivas de rastreabilidade”, assegurou Adam antes de apresentar aos integrantes da comissão dez propostas da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais para aprimorar a fiscalização do ouro no país, entre elas a obrigatoriedade de as empresas listadas na B3 cobrarem de seus fornecedores a certificação da origem do ouro e de outros minerais potencialmente conflitantes.
Representante da Secretaria-Geral da Presidência da República, Jarbas Vieira da Silva também defendeu a importância da rastreabilidade como forma de minimizar a pressão do garimpo ilegal dentro de terras indígenas e quilombolas, além das florestas nacionais. “Entendemos que a rastreabilidade é extremamente importante para combater práticas como ‘aquecer’ o ouro”, comentou Silva, referindo-se à prática criminosa de disfarçar o ouro extraído de garimpos ilegais para comercializá-lo com quem está devidamente autorizado a garimpar outras áreas e que, por fim, comercializa o produto como obtido legalmente.
“O problema de saúde e as várias violações que têm ocorrido na Terra Indígena Yanomami, por exemplo, são resultado desse processo de incentivo à criminalidade e falta de diálogo”, acrescentou Silva, reconhecendo a necessidade de o governo federal fortalecer os órgãos de fiscalização e controle.
O chefe de gabinete da Diretoria de Relacionamento, Cidadania e Fiscalização de Conduta do Banco Central (BC), Eduardo Ferrari de Araújo, e o coordenador-geral de Fiscalização da Receita Federal, Ricardo de Souza Moreira, destacaram, respectivamente, que o tema é “complexa” e que “transcende” a ação de um único corpo, exigindo ação conjunta.
Segundo Araújo, cabe ao BC regulamentar e fiscalizar as instituições financeiras autorizadas a adquirir ouro diretamente de mineradores legais. Moreira defendeu que seria importante aprovar uma lei que facilitasse o compartilhamento, entre órgãos públicos, de informações fiscais sobre a venda de ouro no país. Segundo Moreira, atualmente, a Receita Federal só pode compartilhar seus dados com outros órgãos responsáveis por fiscalizar o cumprimento das normas tributárias, sejam elas federais, estaduais ou municipais.