A Bolsa fechou em baixa e o dólar em alta nesta sexta-feira, 17, acompanhando de perto o desempenho dos índices de ações no exterior. Os investidores começam a antecipar um cenário de possível recessão na economia global, devido à crise bancária em curso nos Estados Unidos e na Europa.
O Ibovespa fechou em queda de 1,40%, aos 101.981 pontos. O índice acumulou queda de 1,50% na semana, e renovou a mínima de 2023 no fechamento desta sexta-feira. É o pior patamar para o índice de referência do câmbio desde 14 de dezembro de 2022. O dólar comercial à vista subiu 0,61%, a R$ 5,270. Na semana, a alta foi de 1,20%.
No mercado de juros, as taxas apresentaram quedas, com a aposta crescente de que o Banco Central comece a reduzir a taxa Selic ainda no primeiro semestre.
Nos contratos com vencimento em janeiro de 2024, a taxa caiu de 13,03% no fechamento desta quinta-feira (16) para 12,97%. É a primeira vez desde novembro de 2022 que a taxa mais curta fica abaixo de 13%. Para janeiro de 2025, as taxas de juros caíram de 12,18% para 12,07%. Nos contratos de janeiro de 2027, a taxa caiu de 12,59% para 12,48%.
Nesta sexta-feira, as ações do Credit Suisse tiveram mais um dia bastante volátil e fecharam em queda de 8%. Na semana, o papel do banco suíço perdeu 25% de seu valor, mesmo com a alta de 19% na última quinta-feira (16).
Um rebaixamento dos ratings e uma ação judicial nos Estados Unidos, anunciados na quinta-feira, prejudicaram parte do alívio decorrente da linha de liquidez de emergência que a instituição garantiu do banco central suíço.
Em mais um sinal de que a preocupação com o setor continua alta, o Conselho de Supervisão do BCE (Banco Central Europeu) convocou para esta sexta-feira uma reunião que não estava agendada, para discutir o estresse e as vulnerabilidades do setor bancário da zona do euro.
Os supervisores do BCE não viram nenhum contágio para os bancos da zona do euro com a turbulência do mercado, disse à Reuters uma fonte familiarizada com o conteúdo da reunião. Ele acrescentou que os supervisores foram informados de que os depósitos permaneceram estáveis nos bancos da zona do euro e a exposição ao Credit Suisse era imaterial.
O banco realizará reuniões no fim de semana para avaliar cenários enquanto tenta recuperar a confiança do mercado, disseram pessoas com conhecimento do assunto à Reuters na sexta-feira.
Nos Estados Unidos, o SVB (Banco do Vale do Silício) entrou com pedido de falência para buscar interessados em seus ativos, após ser fechado por reguladores americanos.
Os reguladores nomearam o FDIC, a agência americana que garante os depósitos bancários, como fiduciário do SVB, no maior colapso desde a falência do Washington Mutual durante a crise financeira de 2008.
O presidente dos EUA, Joe Biden, pediu na sexta-feira ao Congresso que dê aos reguladores maior poder sobre o setor bancário, incluindo a imposição de multas mais altas, recuperação de fundos e proibição de funcionários de bancos falidos, de acordo com um comunicado. com um comunicado divulgado pela Casa Branca.
“Ninguém está acima da lei e fortalecer a responsabilidade é um fator importante na prevenção de má gestão futura”, disse Biden em um comunicado.
Em Nova York, o índice Dow Jones fechou esta sexta-feira na mínima de 1,19%. O S&P 500 caiu 1,10% e o Nasdaq caiu 0,74%.
Na Europa, o índice Euro Stoxx 600 fechou em baixa de 1,21%. As bolsas de Londres, Paris e Frankfurt fecharam o dia com quedas superiores a 1%.
Guilherme Silveira, diretor da iVi Technologies, a próxima semana ainda deve ser tensa no mercado. “Os analistas continuam em alerta para a próxima semana e espera-se que o principal assunto continue a ser a saúde financeira dos bancos”.
Ele lembra que a chamada “Superquarta” acontecerá na próxima semana. No mesmo dia, 22 de março, são publicadas as decisões do Fed (Federal Reserve, banco central americano) e do Banco Central do Brasil sobre taxas de juros. A divulgação nos Estados Unidos é feita durante a tarde, enquanto o BC local anuncia sua decisão a partir das 18h.
No Brasil, a taxa de desemprego ficou em 8,4% no trimestre até janeiro, primeiro mês do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), segundo dados divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
A taxa de 8,4% é a menor para o intervalo até janeiro desde 2015, quando ficou em 6,9%. Analistas, porém, veem reflexos da desaceleração da atividade econômica em parte dos indicadores da pesquisa.
“O resultado foi um pouco pior do que o esperado, mas quando olhamos para o quadro geral do mercado de trabalho, ele se mantém praticamente inalterado, com sinais de perda de fôlego, mas mantendo uma abertura bastante robusta”, diz João Savignon, head de macroeconomia na Kinitro Capital.
Esses dados de desemprego ajudam a segurar os juros, pois reforçam a perspectiva de que o Banco Central pode começar a reduzir a taxa básica ainda no primeiro semestre deste ano, segundo analistas.
RENATO CARVALHO – SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)