Banco Central tem autonomia, mas não é intocável, diz Lula

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a criticar, neste sábado (6), o nível da taxa Selic, taxa básica de juros da economia, atualmente em 13,75% ao ano no Brasil. Pela sexta vez consecutiva, na última semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) não alterou a taxa, mesmo com as críticas do governo federal à sua redução.
Lula afirmou que não discute a autonomia do BC, mas questionou o compromisso de seu presidente, Roberto Campos Neto, com a lei que garantiu a autonomia da autarquia.
“Com quem ele está comprometido, Brasil? Não, ele tem compromisso com o outro governo que o nomeou [do ex-presidente Jair Bolsonaro], isso precisa ficar claro. E ele está comprometido com quem gosta de juros altos, porque não tem outra explicação”, disse Lula, em Londres, em entrevista coletiva após assistir à coroação do rei Carlos III.
Pela lei que deu autonomia ao BC, os diretores têm mandato de quatro anos. O texto prevê que o objetivo fundamental da entidade é garantir a estabilidade de preços, ou seja, a inflação. Além disso, deve também assegurar a estabilidade e a eficiência do sistema financeiro, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e promover o pleno emprego.
“Se eu, como presidente, não posso reclamar do erro cometido pelo presidente do Banco Central, quem vai reclamar, o presidente americano? Então, com licença, o Banco Central tem autonomia, mas não é intocável”, reforçou Lula.
“Se você está comprometido com o crescimento econômico, comprometido com a criação de empregos e comprometido com a inflação, cuide dos três. Com juros de 13,75%, os outros dois [atividade econômica e fomento ao emprego] não serão cumpridas”, avaliou o presidente.
Embora tenham parado de subir em agosto do ano passado, os juros estão no maior patamar desde o início de 2017. Os efeitos do aperto monetário se fazem sentir na alta do crédito e na desaceleração da economia. A Selic é o principal instrumento do BC para conter a inflação.
Quando o Copom eleva a taxa básica de juros, o objetivo é conter a demanda aquecida, e isso afeta os preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia.
“A sociedade brasileira, os varejistas brasileiros, os empresários brasileiros, os trabalhadores brasileiros não podem mais suportar a taxa de juros. O desemprego começa a aparecer no comércio, muitas lojas fecham, fecham. Então, se quisermos gerar empregos no país, vamos ter que ter crédito para o trabalhador, na folha de pagamento, para o pequeno e médio empresário individual, vamos ter que ter crédito para as grandes empresas, senão o país não vai crescer “, ele disse. .
“A economia vai crescer porque estamos colocando dinheiro na veia do trabalhador, estamos retomando todas as políticas públicas que deram certo. E se o dinheiro não cair no bolso do trabalhador, não há emprego, não há melhoria na qualidade de vida no Brasil, nem em qualquer lugar do mundo”, reforçou Lula.
Em declarações recentes, Campos Neto defendeu que as decisões da autarquia são técnicas. Ele ainda vê com otimismo os projetos do governo para equilibrar as contas públicas, que impactam nas estimativas de inflação.
relações comerciais
Lula desembarcou na manhã desta sexta-feira (5) na capital inglesa e à tarde se encontrou com o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak. Nenhum acordo foi assinado, mas, segundo o presidente, os dois países vão criar um grupo de trabalho para tratar do aumento das relações comerciais.
“Uma boa política de relacionamento comercial é uma via de mão dupla, não dá para querer ter um superávit muito grande com um país, o importante é que haja um certo equilíbrio e acho que o Brasil explora muito pouco o potencial de vendas que a Inglaterra tem para o Brasil e acho que a Inglaterra explora muito pouco o potencial de coisas que o Brasil tem para vender”, disse. “Depois que a Inglaterra saiu da União Européia, acho que esse mercado aumentou de forma extraordinária para o Brasil”, acrescentou Lula.
No ano passado, o comércio bilateral movimentou US$ 6,5 bilhões, um aumento de 15% em relação a 2021. As exportações brasileiras para os britânicos somaram US$ 3,7 bilhões, mas representam menos de 2% do total das vendas externas do país. As importações foram de US$ 2,8 bilhões. A balança está a favor do Brasil. As áreas mais investidas do Reino Unido são extração, finanças e transporte.