RN 24 Horas

A Noticias Vidrada 24 Horas. Veja toda notícia do Rio Grande do Norte e Região.
Bolsonaro admite ‘conversa’, mas nega ligação com major que planejou golpe

O ex-presidente Jair Bolsonaro admitiu à Polícia Federal que estava conversando com o major da reserva do Exército Ailton Barros Gonçalves – militar reformado que está no centro das investigações sobre “negociações para a execução de golpe de Estado”. Em nota nesta terça-feira, 16, Bolsonaro disse que teve conversas ‘esporádicas’ com Ailton, preso na Operação Venire – uma investigação sobre fraude na carteira de vacinação do ex-presidente. Ele foi confrontado com mensagens enviadas pelo major para contato com ‘PR 01’.

Os diálogos colocam Ailton na mira da investigação dos atos do golpe de 8 de janeiro, o que pode implicar ainda mais Bolsonaro nesta investigação, na qual o ex-presidente é investigado por suposta incitação ao levante radical.

Conforme mostrou o Estadão, as mensagens de Ailton foram obtidas pela Polícia Federal após quebra de sigilo do ex-assistente de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. Ele está implicado em diferentes investigações no STF: já foi investigado por atos antidemocráticos, foi investigado pelas milícias digitais e é o ponto central da investigação de pagamentos envolvendo a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Aliado de primeira viagem do ex-presidente da República foi preso em meio a investigação sobre suposta fraude na carteira de vacinação de Bolsonaro.

Em uma das mensagens usadas pela PF para questionar Bolsonaro, o major cita a mobilização de grupos que, segundo ele, ‘organizaram’ os atos antidemocráticos de 7 de setembro de 2021. Em seguida, o bolsonarista mencionou a intenção de tais grupos para ‘acampar em Brasília’, em 31 de março de 2022 – data em que aliados do ex-presidente comemoram o golpe militar de 1964 – ‘até que os 11 ministros do STF deixem suas cadeiras’.

No ‘PR 01’, Ailton diz que é possível operar nos grupos ‘para que as pautas sejam do seu interesse’, sugerindo algumas propostas: “siga sempre o Corno do Xandão”, “emissão de urnas eletrônicas” e “impeachment de Corno do Xandão”.

Ainda nos diálogos recuperados pela PF, o major afirma: “Coloquei nas nossas pautas. Se você quiser eu estico, ajusto essas pautas e solto…”. As mensagens foram posteriormente apagadas por Ailton, após ele dizer que ‘recebeu orientações de Cidinho’ – tenente-coronel Mauro Cid, ex-auxiliar de Bolsonaro.

O ex-presidente negou à PF ter orientado “qualquer ato de insurreição ou subversão contra o Estado de Direito”. Sobre a menção de Ailton às ‘orientações’ de Mauro Cid, Bolsonaro disse que não as conhecia e afirmou ‘duvidar’ que seu ex-assessor teria ‘apoiado essas orientações’.

A Polícia Federal já identificou, em outras investigações, mensagens de golpe enviadas por outros apoiadores de Bolsonaro a seu assessor, como as do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos dizendo que ‘As Forças Armadas precisavam entrar com urgência’.

Antes de ser confrontado pela Polícia Federal com as mensagens interceptadas no celular de Mauro Cid, Bolsonaro foi questionado pelos investigadores se, por meio do ex-assessor, Ailton o teria procurado em busca de ‘orientação para influenciar manifestantes a atacarem ministros do STF’ Federal e do Tribunal Superior Eleitoral’. O ex-chefe do Executivo alegou que “nunca lhe chegou ao conhecimento” pedidos de Ailton Barros nesse sentido.

Em seguida, a PF apresentou uma série de mensagens enviadas por Ailton ao Cid. Bolsonaro reafirmou que não sabia das agendas antidemocráticas de Ailton. Ele então admitiu conversas esporádicas com o major, mas negou ter um ‘relacionamento pessoal’ com o militar reformado. Segundo Bolsonaro, disse aos investigadores, as aproximações de Ailton ‘ocorreram principalmente em momentos eleitoralistas’.

Ao solicitar as diligências da Operação Venire, concluída no início do mês, a Polícia Federal classificou Ailton como ‘um dos propagadores da ideologia professada’ pelas milícias digitais investigadas pelo STF.

O relator viu um elemento de ‘união’ na atuação do grupo, ‘seja nas redes sociais, seja na inserção de dados falsos de vacinação contra a covid-19, seja no planejamento de um golpe de Estado’: ação no sentido de ‘proteger e garantir a permanência no poder de pessoas que representam a ideologia professada’, no caso, Bolsonaro.

Na mesma linha, Alexandre de Moraes destacou como a ‘milícia digital repercutiu e ampliou a ideia de que as eleições foram fraudadas, incentivando seus seguidores a “resistir” em frente aos quartéis e instalações das Forças Armadas, a fim de criar o direito ambiente para intervenção federal comandada por militares, a pretexto de atuar como Poder Moderador, com base em interpretação peculiar do art. 142 da Constituição Federal’.

“Os arquivos de áudio e as capturas de tela das mensagens trocadas no aplicativo WhatsApp mostraram a arquitetura do plano criminoso do grupo investigado. Embora não tenham obtido êxito na tentativa de golpe de estado, sua atuação possivelmente foi um dos elementos que contribuíram para os atos criminosos ocorridos em 8 de janeiro de 2023, fato que demonstra a necessidade da competente autorização judicial para compartilhar o informações de elementos ora identificados com os autos do Inquérito 4923/DF”, destacou o ministro ao utilizar as informações para abastecer o inquérito dos atos de 8 de janeiro.

Pepita Ortega – Estadão Conteúdo

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.