Bolsonaro sabia de fraude no cartão de vacinação, diz PF

Em representação enviada ao ministro do STF Alexandre de Moraes, a Polícia Federal aponta Mauro Cid, ex-assessor de despachos de Jair Bolsonaro (PL), como principal articulador de esquema de fraude em carteiras de vacinação contra a Covid-19.
Segundo a PF, Bolsonaro tinha conhecimento da inserção fraudulenta de dados no sistema do Ministério da Saúde.
“Jair Bolsonaro, Mauro Cid e, possivelmente, Marcelo Câmara tiveram pleno conhecimento da inserção fraudulenta de dados de vacinação, permanecendo inertes em relação a tais fatos até o presente momento”, diz a PF.
A polícia cita como prova do conhecimento de Bolsonaro o fato de o atestado de vacinação do ex-presidente ter sido emitido nos dias 22 e 27 de dezembro no Palácio do Planalto.
“Tal conduta, contextualizada com as informações apresentadas, indica que as falsas inserções podem ter sido realizadas com o objetivo de gerar vantagem indevida ao ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, relacionadas a fatos e situações que exigem comprovação de vacinação contra o Covid-19”, diz a PF.
Bolsonaro foi alvo nesta quarta-feira de busca e apreensão pela PF e intimado a depor, mas já avisou que não pretende comparecer. Ele reunirá advogados e assessores para discutir os próximos passos de sua defesa.
A Procuradoria-Geral da República se opôs às buscas solicitadas pela PF. Segundo a PGR, Mauro Cid “teria idealizado e conduzido toda a ação criminosa” sem a vontade do ex-presidente.
“Não há evidências mínimas para apoiar o envolvimento do ex-presidente da República Jair Bolsonaro com atos exequíveis de inserção de dados falsos sobre vacinação nos sistemas do Ministério da Saúde e com o possível uso de documentos ideologicamente falsos”, diz o comunicado assinado. por Lindôra Araújo.
O ministro Alexandre de Moraes discorda da PGR sobre a tese de que Cid agiu sozinho, mas concedeu a busca apenas contra Bolsonaro, e não contra Michelle, também investigada no caso.
“Não há indícios nos autos que dêem credibilidade à versão de que o ajudante de campo do ex-presidente da República Jair Bolsonaro poderia ter comandado uma operação criminosa relevante, dirigida diretamente ao então deputado e sua filha LFB, sem, no mínimo, conhecimento e aquiescência dos primeiros, circunstância que só poderá ser apurada com a realização das diligências de busca e apreensão exigidas pela autoridade policial”, disse Moraes.
A operação chegou perto do cerne do ex-presidente, com a prisão de três de seus principais auxiliares, o tenente-coronel Mauro Cid, Max Guilherme e Sérgio Cordeiro.
Tanto Max quanto Cordeiro são 2 dos 8 cargos de assessoria a que Bolsonaro tem direito como ex-presidente da República. Este último foi, inclusive, quem emprestou a casa ao ex-deputado para fazer lives durante a campanha eleitoral, quando foi proibido de fazê-las no Palácio da Alvorada.
Eles também acompanharam Bolsonaro em sua temporada nos Estados Unidos, após perder a eleição. Max ainda esteve ao lado do ex-presidente em suas primeiras viagens pelo Brasil e nas que vem fazendo em Brasília, como o colégio militar.
As medidas fazem parte de uma investigação, diz a PF, sobre uma suposta “associação criminosa formada para praticar os crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde”.
“A investigação indica que o objetivo do grupo seria manter o elemento identitário coeso em relação às suas pautas ideológicas, no caso, apoiar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19”, diz a PF.
Segundo a Polícia Federal, os alvos da investigação teriam feito as inserções falsas entre novembro de 2021 e dezembro de 2022 para que os beneficiários pudessem emitir um certificado de vacinação para viajar aos Estados Unidos.
Segundo a reportagem, há a suspeita de que as carteiras de vacinação de Bolsonaro, Cid e da filha caçula do ex-presidente, Laura, tenham sido falsificadas.
A PF diz ainda que as diligências são realizadas dentro da investigação das milícias digitais, que tramita no Supremo Tribunal Federal e tem como relator o ministro Alexandre de Moraes.
FABIO SERAPIÃO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)