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Bretas diz que decisões da Lava Jato foram dadas às pressas para atender a PF

O juiz Marcelo Bretas disse em entrevista a um podcast que tomou decisões da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro às pressas para atender às necessidades logísticas da Polícia Federal e do Ministério Público Federal. A afirmação foi dada em entrevista ao programa Cara a Tapa, apresentado por Rica Perrone.

Nela, o magistrado também tece comentários diretos e indiretos pela primeira vez sobre a soltura do ex-governador Sérgio Cabral, a decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) de destituí-lo do cargo e as anulações de suas decisões pelo STF ( Supremo Tribunal Federal).

Ao explicar a origem das operações policiais, o magistrado disse que teve pouco tempo para analisar os pedidos de prisão e busca e apreensão e contou com o trabalho de sua equipe para tomar decisões.

“Geralmente eu tinha pouco tempo. ‘Doutor, está tudo aqui, pode ver. É uma operação muito grande. São 200, 300 policiais. Vai vir um policial do Acre, não sei de onde, então a janela de tempo que você tem… Dá conta?’. E essa coisa para mim… Eles descobriram minha fraqueza: perguntar se eu aguento. ‘Consegues fazê-lo?’ Eu me senti desafiado e disse: ‘Deixe isso comigo’”, disse ele.

“Nós trabalhamos duro. A correria era mais para atender a logística da polícia e do Ministério Público. E funcionou muito bem. Até hoje, nunca ouvi uma crítica séria ao trabalho realizado.”

À Folha de S.Paulo Bretas disse que a pressa não afetou a qualidade das decisões.

“O fator ‘brevidade do tempo’ era comum e mais um elemento a ser tratado na operação Lava Jato, exigindo esforço extra de toda a equipe. Mas em nenhum momento a qualidade das avaliações e decisões documentais foi comprometida”, afirmou o magistrado.

A juíza foi afastada temporariamente do cargo pelo CNJ por supostas irregularidades na tramitação do processo. A medida é válida até a finalização dos PADs (processos administrativos disciplinares) contra ele.

Os diretores analisaram conjuntamente três denúncias feitas contra Bretas. Dois têm como origem delação premiada de advogados que denunciaram supostas negociações irregulares do magistrado na tramitação do processo.

A terceira se refere a denúncia do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), de suposta atuação política nas eleições de 2018 em favor do ex-juiz Wilson Witzel, vencedor da disputa e afastado do governo estadual dois anos depois.

Na entrevista, Bretas afirmou que a denúncia premiada do advogado Nythalmar Dias Ferreira Filho, uma das bases para o afastamento, é “uma mentira útil”.

“Não há nada. Tanto que já se passaram dois anos e nada aconteceu. Dois anos depois da delação e onde está? Porque não é nada, é mentira. Mas é uma mentira útil que importa”, disse ele.

O magistrado também criticou a censura aplicada a ele pelo TRF-2 (Tribunal Regional Federal) por participar de inauguração de obra pública ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e do ex-prefeito Marcelo Crivella (Republicanos).

“Duvido que algum outro juiz ou funcionário que fosse convidado para um evento com o Presidente da República recusasse o convite. Como era eu e as pessoas tinham uma certa má vontade, me acusaram. Havia outros juízes lá também, que não foram convidados pelo presidente, mas conseguiram ser convidados porque queriam estar perto do presidente. Veja a diferença?” ele disse.

“Não posso dizer que foi sacanagem porque recebi uma punição do meu tribunal. O tribunal aceitou e me puniu. Posso viver bem sendo censurado. Eu pedi para não ser. Fui e respeito a decisão. Eu discordo dela, obviamente, mas está feito.”

Bretas fez comentários diretos e indiretos sobre Cabral, a quem condenou a mais de 400 anos de prisão.

De forma direta, ele relembrou o dia em que autorizou o ex-governador a usar o cargo para se encontrar com o neto e ver o pai, o jornalista Sérgio Cabral, já acometido pelo mal de Alzheimer.
“Um deles, ex-governador, conheceu o neto dentro do meu gabinete. Não estou falando do tribunal. Abri mão do meu escritório para reunir a família. A mãe, o pai, que está muito doente, o neto, o filho. O filho falando mal de mim nas redes sociais.”

As principais referências ao ex-governador, porém, foram indiretas. Ele se defendeu das críticas, feitas por Cabral, de que buscava autopromoção com as ações judiciais.

“Críticas como essa já ouvi muito, geralmente de pessoas muito envolvidas, com fortes indícios contra, ou que já confessaram um crime, mas de repente mudam de versão. Agora ele quer contar uma história diferente. E qual é a defesa mais fácil? Ataque o juiz, o promotor, o investigador. É o que você tem visto ultimamente, não estou falando de processos específicos.”

Ele também relembrou casos em que réus confessaram e pediram perdão à família, como foi o caso do ex-governador. “Conversei com várias que estavam chorando, pedindo perdão à família. Filho, mulher. Eu vi muito isso.”

O magistrado também comentou o caso de réus por corrupção que não têm vergonha de aparecer publicamente, como aconteceu com o ex-governador após deixar a prisão no final do ano passado.

“Eles [corruptos] eles não têm o direito de se arrepender. Se uma pessoa se vende por dinheiro, ela não tem valor próprio. Ela sabe que não vale nada, que é uma fraude. Então ela tem duas opções: ou coloca uma máscara e sai andando pela rua como se nada disso tivesse acontecido, ou cai em depressão e vai para uma caverna. E isso não está no jogo deles. E então ele interpretará esse personagem do filme que você vê. Como cidadão sinto nojo de ver um ou outro andando por aí, conversando às vezes com as autoridades.”

Bretas evitou criticar os tribunais superiores por anular algumas de suas decisões.
“Alguns ouvidos que não concordavam com aquela tese, de repente concordam e desfazem o trabalho. Faz parte do sistema. Ele admite essas discussões, as polêmicas, o contraditório é assim. Cabe à sociedade avaliar se o que está acontecendo é correto ou não”, declarou.

O magistrado, porém, respondeu diretamente a uma crítica feita pelo ministro Gilmar Mendes sobre a publicação de fotos em academias feitas por ele. “”Não é comum que o Poder Judiciário priorize o atendimento à saúde física. A equipe é meio descontraída, em outras palavras. O que não quer dizer que uma autoridade ou outra queira cuidar da saúde e a forma física não possa ser ridicularizada por causa disso.”

Aguardando a conclusão dos PADs que podem culminar em sua aposentadoria compulsória, Bretas comparou sua situação a uma luta de boxe. “Estou em uma luta de boxe. No momento, tenho que saber pegar. Estou sendo atingido e mantendo a posição.”

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