Coronel do Exército diz que PM-DF avaliou ‘baixa animosidade’ no dia dos atos do golpe

A preocupação do GSI era com manifestações que ‘tivessem influência no Palácio do Planalto e na residência de funcionários’ – Foto: Divulgação
O coronel do Exército Wanderli Baptista da Silva Junior, ex-subdiretor do Departamento de Segurança Presidencial do Gabinete de Segurança Institucional, disse à Polícia Federal que nem o órgão nem representantes do Planalto foram convocados para uma reunião no Centro Integrado de Operações da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para discutir o esquema de blindagem da Praça dos Três Poderes no dia 8 de janeiro.
Wanderli disse, em depoimento à PF no domingo, 23, que ‘foi informado pela mídia e pela Polícia Militar’ de que aconteceriam os atos que culminaram na depredação das sedes dos Poderes naquele domingo, ‘ mas não houve reunião específica para tratar do tema’.
Imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto mostram soldados do GSI entre os radicais que destruíram as dependências da sede do governo. O Major do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira distribuiu água aos golpistas, para ‘acalmá-los’.
Segundo o coronel, que também esteve no Palácio na tarde do dia 8 de janeiro, a preocupação do GSI era com manifestações que ‘tivessem influência no Palácio do Planalto e na residência dos oficiais’.
Os militares sustentaram que o Departamento de Segurança Presidencial soube, ‘através da Secretaria de Segurança Pública, que haveria manifestação de baixa animosidade, com concentração na Esplanada e deslocamento para o Setor Militar Urbano, com destino ao QG do Exército’.
Wanderli disse que a comunicação ocorreu por meio da Coordenação de Avaliação de Riscos, sem ‘menção a ações radicais, mas apenas a dura comunicação de manifestação de baixa animosidade, com cerca de 2.000 manifestantes’. Tal cenário foi o que orientou os efetivos de prontidão e plantão solicitados ao Comando Militar do Planalto, por meio da Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial, indicou o coronel.
Os militares apontaram que somente após o dia 8 de janeiro o GSI tomou conhecimento de que havia ocorrido uma reunião para traçar um plano de ação para aquela data, no Centro Integrado de Operações da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal. Wanderli destacou que nem a Secretaria de Segurança da Presidência da República nem representantes do Palácio do Planalto foram convocados para a reunião.
“Se o Departamento de Segurança do GSI sabia que as manifestações seriam em direção ao Palácio do Planalto, ou teriam caráter violento, ou teriam como objetivo a invasão do Palácio do Planalto, com certeza o efetivo da tropa solicitado ao Comando Militar do Planalto e empregados para reforçar o pessoal de serviço com o devido aviso prévio teriam sido muito maiores”, sustentou.
O coronel frisou que, ‘normalmente, para grandes eventos e manifestações, são realizadas reuniões com o CIOB, com a participação do GSI, nas quais são definidas ações para os diversos órgãos envolvidos. “Dessa forma, sempre que o GSI é acionado para essas reuniões, compõe o plano de ação da SSP/DF, o que não ocorreu na manifestação do dia 8 de janeiro”, argumentou.
O ex-director-adjunto do Departamento de Segurança Presidencial do Gabinete de Segurança Institucional disse que a actuação do órgão foi baseada na ‘rotina’, com um ‘reforço de tropa’. Em análise após a ação, ‘foi identificado que o efetivo foi aquém do necessário por falta de informação sobre o real quadro do ocorrido no dia 08’, indicou.
Para Wanderli, ‘diante da falta de informação, o GSI fez o que sempre fez’. Além disso, os militares consideraram que, dentro do sistema do “plano escudo” – protocolo de segurança para os palácios – duas linhas da Polícia Militar ‘deveriam ter bloqueado os manifestantes por mais tempo, dando um lapso para desencadear um reforço maior de tropas do Comando Militar do Planalto’.
O militar disse não ter recebido nenhuma informação de inteligência da ABIN sobre o aumento do fluxo de ônibus e a chegada de pessoas após o dia 6 de janeiro em Brasília. Além disso, ponderou que, quanto à preparação prévia para o dia 8 de Janeiro, ‘realizou-se de acordo com os protocolos de manifestações em que a Coordenação-Geral de Segurança de Instalações, despacha com o Secretário de Coordenação e Segurança Presidencial a utilização de tropas de prontidão e alerta disponíveis para enfrentar as manifestações’.
Alerta laranja seria vermelho
O nível do indicador de risco GSI para o dia dos atos de golpe era laranja – o terceiro nível em uma escala de cinco níveis. No entanto, o coronel Wanderli destacou que, se o risco fosse avaliado ‘de acordo com as informações que posteriormente ficaram conhecidas pelos demais órgãos, a matriz de criticidade seria “vermelha”, e o efetivo solicitado para a tropa de choque seria maior bom’.
A ‘falta de informação’ sobre os atos golpistas foi mencionada em outros depoimentos de militares que integravam o GSI. O coronel Alexandre Santos de Amorim, ex-coordenador de avaliação de riscos da Secretaria de Segurança Presidencial, afirmou que ‘na semana anterior aos atentados não recebeu informações da ABIN relacionadas a atos antidemocráticos’.
Ele reforçou a informação de Wanderli de que o GSI ‘é sempre convidado pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para participar de reuniões no Centro Integrado de Operações’, e a presença do órgão na reunião mencionada no depoimento do colega, em que o Protocolo de Ações Integradas sobre os atos de 8 de janeiro.
Segundo Amorim, apesar das ‘poucas informações disponíveis’ sobre os atos que aconteceriam no dia 8, mas considerando a presença do acampamento montado em frente ao QG do Exército e ‘possivelmente indivíduos mais radicais’, o risco foi avaliado como laranja. O coronel também disse acreditar que, se ‘houvessem relatos mais concretos sobre a existência de manifestantes radicais, o GSI certamente teria mais tropas’.
Por Pepita Ortega – Estadão