O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, disse hoje 16 que a minuta de um possível decreto presidencial apreendido na casa do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Anderson Torres, revela que “alguém” chegou a planejar um golpe de Estado. Estado.
“Apesar de não ter a assinatura de ninguém, o documento revela que, em algum momento, alguém pensou em dar um golpe de Estado no Brasil. Revela que alguém tinha a intenção de desferir um golpe [de Estado]”, declarou Ibaneis em sua primeira entrevista coletiva após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizá-lo a reassumir o cargo.
O governador ficou 64 dias afastado do comando do executivo distrital. A remoção foi determinada por Moraes após o dia 8 de janeiro, quando vândalos e golpistas invadiram e destruíram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o prédio do Supremo Tribunal Federal.
Inicialmente, Moraes ordenou que Ibaneis ficasse afastado do governo do Distrito Federal por 90 dias para não atrapalhar as investigações sobre as responsabilidades do poder público nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Apesar disso, ontem, 15, Moraes o próprio autorizou Ibaneis a reassumir o cargo.
O ex-ministro Anderson Torres, que assumiu a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal em 2 de janeiro, está preso desde o dia 14 de janeiro. Sua prisão também foi autorizada por Moraes, a pedido da Polícia Federal (PF), que o acusou, já como secretário distrital, de ter se calado e facilitado os atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Ibaneis foi encontrado na casa de Torres por policiais federais que cumpriam mandado de busca e apreensão. Se colocada em prática, a medida possibilitaria a invalidação do resultado das últimas eleições presidenciais. Em depoimento, Torres desqualificou o documento, afirmando que seu conteúdo não tem “viabilidade jurídica”. Ele também garantiu à PF que não sabe quem escreveu o texto, que recebeu quando ministro da Justiça.
“Anderson Torres foi meu secretário de Segurança entre 2019 e 2021. É uma pessoa que goza da minha confiança. Ele veio. E quando o [ex-]O presidente Bolsonaro perdeu a eleição, entendi que ele seria uma boa pessoa para voltar ao governo do Distrito Federal”, disse Ibaneis, explicando o motivo de ter convidado Torres para reassumir a Secretaria de Segurança Pública após o fim do governo Bolsonaro.
“Agora, o que aconteceu no dia 8 de janeiro é uma coisa imprevisível. Até o dia 6 de janeiro, não tínhamos perspectiva de que isso iria acontecer. Os ônibus começaram a chegar ao DF nos dias 6 e 7 [de janeiro]. Tivemos todo aquele problema, mas ao meu ver não foi culpa do Anderson. Acho que foi um grupo”, acrescentou o governador, minimizando a responsabilidade do então secretário distrital de Segurança que, às vésperas dos ataques a prédios públicos, viajou de férias aos Estados Unidos.
Embora estivesse à frente da pasta há apenas cinco dias, Torres já havia feito uma série de mudanças nos postos de comando da segurança pública. Apesar disso, para Ibaneis, o que aconteceu naquele dia em que milhares de pessoas avançaram sobre prédios públicos sob o olhar atônito de um número insuficiente de agentes públicos foi um “apagão geral” que atingiu até as tropas sob o comando do governo federal.
“O que aconteceu foi um apagão geral. Eu mesmo recebi mensagens do Secretário Interino de Segurança Pública [Fernando de Sousa Oliveira] dizendo que as coisas estavam extremamente tranquilas. Houve falhas da Polícia Militar. No Palácio do Planalto, que tem um batalhão à disposição, a descontração foi total. A Força Nacional de Segurança Pública também não agiu. Foram várias falhas juntas, e as investigações em andamento vão apurar tudo isso”, enfatizou Ibaneis.
O governador lembrou ainda que, após a rebelião ocorrida no dia 12 de dezembro, quando manifestantes tentaram invadir a sede da Polícia Federal, no centro de Brasília, o governo do Distrito Federal tentou desmobilizar o acampamento montado em frente ao Quartel General do Exército, em Brasília, onde se concentrava parte das pessoas que posteriormente participaram da depredação de prédios públicos.
“Pelo menos duas vezes tentamos tirar os manifestantes da porta do QG do Exército. Como no dia 12 de dezembro já haviam queimado ônibus e feito o que fizeram, sabíamos que era um barril de pólvora, mas nas duas vezes fomos parados pelo Comando do Exército”, garantiu Ibaneis. “Ainda assim, no dia 8 de janeiro, a informação que tive era de que as coisas estavam tranquilas. Por isso não poderia ter outra postura. Hoje, olhando para trás, é fácil avaliar que algo diferente poderia ter sido feito, mas fiz o que era da minha competência, com base nas informações que eu tinha na época.”
Sobre sua saída, Ibaneis disse que foram dias muito difíceis, mas que entende que foram necessários. “É com muita alegria que volto ao Palácio do Buriti. Recebi a decisão de sair com respeito, paciência e passei por esse período com total resiliência. Não tenho mágoa, rancor ou raiva de ninguém. E, embora tenha levado um grande susto, entendi a reação do ministro Alexandre de Moraes. O que aconteceu no dia 8 de janeiro foi muito grave e [a decisão de Moraes] foi necessário”.