Posicionamento dos vereadores segue posicionamento do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano – Foto: Elpídio Júnior/CMN
Membros da Comissão de Transportes da Câmara Municipal de Natal reivindicam licitações de transporte público. A posição dos vereadores segue a posição do Sindicato das Empresas de Transporte Urbano (Seturn), que informou que vai entrar com uma ação no Tribunal de Contas do Estado (TCE) pedindo a publicação do processo licitatório.
A licitação do transporte em Natal se arrasta há mais de 10 anos, sem resolução. O presidente da Comissão de Transportes, vereador Milklei Leite (PV), disse ao Agora RN que o grupo já exigiu várias vezes adiantamento da Prefeitura de Natal. “Só vamos resolver o problema do transporte se houver licitação, porque haverá regras e fiscalização. Até lá, só gelo seco”, apontou.
O parlamentar acredita que o Município precisa de mais agilidade no processo. “A Prefeitura está tentando. Participei de muitas reuniões com o STTU [Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana], mas é muito lento e a questão da licitação deveria ter sido abordada. O estudo já deveria ter sido concluído, porque já sabemos qual é o problema do transporte”, afirmou.
O estudo citado pelo vereador é um contratado no ano passado pela Prefeitura com a Associação Nacional dos Transportes Coletivos (ANTP), com o objetivo de apresentar soluções para o atendimento de áreas carentes devido às filas devolvidas pelas empresas desde o início da pandemia . A pesquisa, porém, ainda não divulgou resultados.
Assim como a Seturn, Milklei também defende a concessão de subsídios financeiros para melhorar a qualidade do serviço. “Não sei exatamente os valores, mas o subsídio precisa existir porque várias cidades do Brasil fazem isso, justamente pelas gorjetas e meias-entradas. Temos que investir no transporte público para ter uma mobilidade de qualidade”.
Eribaldo Medeiros (PSB), que também integra a comissão, esclarece que cabe ao Executivo enviar o projeto de licitação à Câmara. “As empresas precisam que os governos federal, estadual e municipal subsidiem a meia-entrada dos estudantes e a gratuidade dos idosos”.
O vereador criticou o sistema de transporte da capital potiguar. “Temos um dos piores transportes do Brasil, completamente sucateado, estamos perdendo linhas e a população está sofrendo”, afirmou. “Me parece que o governo não tem interesse em fazer a licitação. A insegurança jurídica é grande, as empresas de ônibus estão trabalhando na clandestinidade”, continuou.
Outro membro da comissão, o vereador Anderson Lopes (Solidariedade), afirmou que a licitação é uma das ferramentas que vai ajudar a melhorar o sistema de transporte público. “Antes as empresas não tinham interesse em licitar, mas agora a situação do transporte piorou tanto que até as empresas querem que a licitação aconteça. Eles estão sofrendo prejuízos e sabem que essa ferramenta pode ajudá-los não só a melhorar a qualidade do sistema, mas também contribuir para a recuperação do lucro”.
O subsídio financeiro, que já é realidade em algumas capitais brasileiras, ajuda a baratear o custo da passagem. “Para que o sistema funcione a contento, serão necessários investimentos. E é claro que esse investimento não pode sair do bolso do usuário, pois o custo da passagem já é alto para nossa realidade. Esse investimento também não recairá apenas sobre os empresários. Portanto, o subsídio é a solução mais coerente e viável. Essa é uma pauta importante, necessária e que precisa da união da nossa bancada federal para ser viabilizada”, defendeu Anderson.
Sobre a licitação, Anderson Lopes concorda que o processo está lento. “Isso vem se arrastando há anos e por várias gestões. Como já disse várias vezes na tribuna da Câmara, espero que o prefeito Álvaro Dias tenha interesse em tirar essa licitação do papel porque até politicamente seria um feito histórico para sua gestão”.
Além da licitação e do subsídio financeiro, o vereador defende que a ferramenta mais importante é um plano de mobilidade urbana que destrave o trânsito em trechos com picos de congestionamento diário. “Com essas ferramentas Natal finalmente poderá caminhar para melhorias”, observou.
“Temos que abrir a caixa preta do sistema de transporte”
Assim como seus colegas parlamentares, o vereador Daniel Valença (PT) defende que a licitação é um dever legal. “Sempre defendemos que isso fosse feito. Agora, por diversas vezes, a Seturn defendeu que os direitos dos passageiros, previstos em lei, sejam retirados para que as empresas participem da licitação. Queremos a licitação, mas não a queremos de qualquer maneira. É preciso que os direitos dos utentes sejam respeitados e que se garanta concretamente um melhor serviço, não a legalização de um mau serviço”.
Também membro da Comissão de Transportes do CMN, o vereador defende que o transporte público seja subsidiado. “O poder público tem papel fundamental na promoção do transporte público, criando políticas que o priorizem. Quanto melhor o transporte público, menos carros nas ruas, o que reduz o congestionamento, a poluição e até o número de acidentes. O problema é que a Seturn se recusa a agir com transparência em relação a dados e custos operacionais. Sempre falam que as empresas vão falir, mas nunca mostram, de forma objetiva, as planilhas de despesas e lucros. Não é à toa que se fala tanto da ‘caixa preta’ de Seturn”, disse.
E continuou: “Como defender subsídios com dinheiro público, que devem ser fiscalizados com o maior zelo, para um setor que nega a transparência? Se perguntarmos ao trabalhador se ele acha que as empresas de ônibus, que prestam um serviço tão importante de forma péssima, ainda devem receber R$ 3 milhões, a resposta, sem dúvida, será não”.
Para o vereador, o prefeito Álvaro Dias (Republicanos) não atua em relação ao transporte. “Em sua mensagem anual ao Legislativo, o prefeito nem tocou na ideia de licitação. Ele não mencionou o transporte público, um dos maiores problemas enfrentados historicamente pela cidade de Natal. Chegou mesmo a dizer que não tem culpa do caos instalado, culpando os seus antecessores. Agora, todo mundo sabe que o sistema de transporte público de Natal sempre foi muito ruim, mas o agravamento da pandemia hoje é profundo”, frisou.
Segundo o responsável, “a responsabilidade pela situação é do Álvaro Dias, mas também das empresas que procuram preservar os seus lucros sem qualquer melhoria para os utentes. O desaparecimento das linhas, por exemplo, tem a conivência do STTU, mas é derivado das ações da Seturn, que só quer as rotas de maior lucro”.
Daniel Valença acompanha Anderson Lopes na defesa de um plano de mobilidade urbana. “Temos que abrir a caixa preta do sistema de transporte. É impossível não ter o máximo de transparência sobre o lucro das empresas versus a qualidade do serviço oferecido. Outro passo fundamental é a realização da licitação, que seja abrangente e que permita a participação de empresas de todo o país. Também é fundamental romper com a tradição de que a Seturn diz como vai prestar o serviço de transporte. É o Estado e não a iniciativa privada que deve administrar o sistema de transporte”.
“A Mesa de Mobilidade [Daliana Bandeira] ele nem sabe quando as empresas mudam de itinerário ou extinguem linhas. Além disso, acreditamos na viabilidade da gestão municipal atuar para a criação de uma empresa de transporte público. Porto Alegre, João Pessoa, várias capitais têm boas experiências nesse sentido. Por fim, também colocaria tarifa zero na pauta. Já realidade em outras cidades, permitiria uma revolução em termos de mobilidade urbana. Não há solução fácil para um problema complexo, mas não podemos continuar penalizando os usuários de um serviço essencial para a comunidade da população natalina”, listou Daniel Valença.