Brendo Yan da Silva morreu após comer um bolinho com recheio de camarão. Ele tinha alergia a crustáceos – Foto: Reprodução
A morte por alergia alimentar é considerada um evento muito raro. Segundo a Organização Mundial de Alergia, ocorre no máximo 0,32 casos por milhão de pessoas por ano. Mas foi o que aconteceu com o digital influencer Brendo Yan, 27, do Rio Grande do Norte, que teve uma forte reação alérgica após comer um bolinho de camarão e acabou morrendo na última quarta-feira, 26.
A alergia alimentar é uma resposta exacerbada do organismo a determinadas proteínas presentes em alguns alimentos que são erroneamente reconhecidas como agressoras pelo sistema imunológico e, por consequência, atacadas. Os sintomas podem ser leves, como reações cutâneas e gastrointestinais, a mais graves, como vias respiratórias e reações cardiovasculares.
A reação mais grave e potencialmente letal é a anafilaxia, com comprometimento do sistema cardiocirculatório, hipotensão e choque. Em questão de minutos a pessoa pode morrer se não for imediatamente tratada com adrenalina. Foi o que aconteceu com Brendo Yan. Ele foi socorrido e ficou internado por quatro dias, mas mesmo assim não resistiu.
“Esses desfechos fatais são raros e nos deixam muito tristes porque são evitáveis em pelo menos dois estágios”, disse a médica Ana Paula Moschione Castro, alergista e imunologista da USP e diretora da Clínica Croce. “A primeira, para quem sabe que tem alergia, é evitar comer a comida. Mas sabemos que às vezes pode estar escondido em alguma preparação ou sob rotulagem inadequada. A segunda é, assim que a reação começar, reconhecer a gravidade e tomar medidas para reduzir o risco de morte”.
A principal medida, segundo o especialista, é tomar uma injeção de adrenalina o quanto antes. Em pelo menos um terço dos países do mundo, os pacientes têm o direito de levar consigo adrenalina auto-injetável para ser usada nessas circunstâncias. No Brasil isso não é permitido. Portanto, a única medida possível é ir ao hospital mais próximo para tomar a adrenalina.
“Nesses casos, quando dois sistemas são afetados ao mesmo tempo, como a pele e o respiratório, não adianta tomar antialérgicos”, alerta o especialista. “Você tem que ir ao pronto-socorro mais próximo para obter a adrenalina.”
No Brasil, não há estatísticas oficiais, mas a prevalência de pessoas alérgicas a alimentos é semelhante à internacional, segundo especialistas. Aos 2 anos, cerca de 8% das crianças apresentam algum tipo de alergia alimentar, geralmente a leite, ovos e trigo. Esse tipo de alergia, em muitos casos, é reversível com a idade da criança. Entre os adultos, a prevalência é de 2%. Nesse caso, os principais vilões são os frutos do mar, principalmente camarão, peixes, amendoim e nozes em geral.
“Mas qualquer pessoa, em qualquer momento da vida, está sujeita a ter uma reação alérgica. Ele poderia ter comido camarão a vida toda sem problemas e, um dia, desenvolver uma alergia”, alertou o especialista Alex Lacerda, do Departamento Científico de Anafilaxia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI). “Nas pessoas que já sabem que têm alergia, erros comuns são pensar que se você comer só um pouquinho não vai ter reação ou que se tomar um antialérgico antes não vai ter reação. Medicação prévia não previne anafilaxia.” (Por Roberta Jansen | Conteúdo do Estadão)