O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira, 17, que o aperto dos juros, que levou a Selic a território significativamente contracionista, começa a dar frutos. “A inflação no Brasil começou a cair relativamente mais cedo do que em outros países em desenvolvimento”, comentou, na abertura da conferência anual do BC. “No segundo semestre de 2022, o principal fator para a redução da inflação foram as reduções fiscais implementadas nos serviços de combustíveis, eletricidade e telecomunicações, mas a diminuição da inflação deve-se também ao ciclo de aperto da política monetária”, acrescentou, citando o desaceleração dos índices de preços no período.
Segundo ele, o processo de desinflação deve continuar, mas não de forma linear, já que os núcleos de inflação são mais resilientes devido à difusão da inflação entre os setores e às pressões de componentes mais rígidos, como serviços.
Assim, destacou, o BC segue com o desafio de consolidar a desinflação no Brasil, prejudicada pelo enfraquecimento das expectativas.
Sistema de metas de inflação
Nesta quarta-feira, o presidente do Banco Central voltou a defender o regime de metas de inflação, que, destacou, tem contribuído para ancorar as expectativas ao comportamento dos preços. Em meio ao debate sobre mudanças nas metas de inflação, como forma de abrir espaço para a queda dos juros, Campos Neto sustentou que a credibilidade do sistema de metas reside justamente em sua estabilidade, bem como no fato de não mudar tão resultado da conjuntura económica ou do ciclo de política monetária.
“O regime alvo em nosso país foi bem-sucedido. O regime tem se mostrado um quadro estável e sólido, que atende as diferentes fases da conjuntura econômica e contribui para a ancoragem das expectativas de inflação”, declarou o presidente do BC.
Campos Neto observou que o enfraquecimento das expectativas está relacionado, em parte, a questionamentos sobre a mudança de metas, além de incertezas quanto à política econômica do Brasil, principalmente no âmbito fiscal.
Segundo o presidente do BC, decisões que aumentam a confiança nas metas de inflação contribuem para um processo desinflacionário mais rápido e menos oneroso. Sobre o novo quadro fiscal, disse que as novas regras para as contas públicas podem “eventualmente” ajudar a reancorar as expectativas, bem como evitar cenários mais extremos para a trajetória da dívida pública.
No entanto, Campos Neto reiterou que não há relação mecânica entre a política monetária e a apresentação do quadro fiscal.
Ele também destacou que a velocidade da desinflação tende a ser mais lenta neste momento, e o combate à inflação continua sendo um grande desafio para os bancos centrais.