Estudo aponta aumento de 76% nos casos de homofobia no futebol no país

Segundo o Anuário do Observatório Coletivo, foram registrados 74 episódios de preconceito contra a comunidade LGBTQIAP+ no ano passado, ante 42 em 2021 — Foto: CBF/Divulgação
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou nesta quarta-feira, 17, Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, relatório do Coletivo da Torcida Canarinhos LGBTQ+. Segundo o trabalho, houve 76% a mais de casos de homofobia no futebol no Brasil (dentro e fora de campo) em 2022, em relação ao ano anterior.
Segundo o Anuário do Observatório do Coletivo, foram registrados 74 episódios de preconceito contra a comunidade LGBTQIAP+ no ano passado, ante 42 em 2021. Em 2020, quando a pandemia de covid-19 começou e os campeonatos ficaram paralisados por um tempo significativo, o relatório apontou 20 casos de homofobia.
“São casos que se repetem toda semana, é uma luta complexa e desafiadora. Existem clubes que já detectaram isso e estão trabalhando no assunto com seus jogadores, funcionários e torcedores. Mas ainda é insuficiente. A LGBTfobia é um mal social que se espalha em todos os ambientes, principalmente no futebol. Esta intolerância motivada pelo ódio e pela discriminação é profundamente violenta e deixa marcas profundas. Temos uma pesquisa de 2018 que indica que 62,5% dos brasileiros LGBTQ+ já pensaram em suicídio”, comentou Onã Rudá, fundador do coletivo, em nota ao site da CBF.
Vamos para este edifício! 👊🏾 https://t.co/Uch635RLNS
— Canarinhos LGBTQ+ (@Canarinhoslgbt) 17 de maio de 2023
Segundo a reportagem, os episódios de 2022 passam por xingamentos em campo, cânticos nos estádios e comentários ofensivos. O estudo também aborda o trabalho realizado pelo coletivo para dialogar com órgãos e entidades atuantes no futebol nacional, como a própria CBF, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) e o Ministério Público.
“Existe claramente uma nova lógica de pensar o futebol e a forma como ele se relaciona com a sociedade. Um passo importante que precisa ser dado é a construção de um protocolo que padronize e oriente diretamente como todos os árbitros do Brasil devem agir diante de cada situação de discriminação. Há árbitros que paralisam partidas por causa de cânticos homofóbicos, mas não registram o caso na súmula e isso prejudica as ações no STJD”, disse Rudá.
Punível
O Regulamento Geral de Competições (RGC) da CBF de 2023, publicado em fevereiro, indica a possibilidade de punição esportiva para um clube em caso de discriminação. O artigo 134 do RGC prevê penalidades: advertência, multa de R$ 500 mil, proibição de inscrição ou transferência de atletas e até perda de pontos.
“É considerada gravíssima a infração de caráter discriminatório praticada por dirigentes, representantes e profissionais dos Clubes, atletas, técnicos, membros da Comissão Técnica, torcedores e equipes de arbitragem em competições coordenadas pela CBF, especialmente insultar alguém, ofender seus dignidade ou decoro, em razão de raça, cor, etnia, origem nacional ou social, sexo, gênero, deficiência, orientação sexual, idioma, religião, opinião política, riqueza, nascimento ou qualquer outra forma de discriminação que atente contra a dignidade humana”, diz o parágrafo 1 do artigo.
🌈 Por respeito, dignidade, pelo direito de amar livremente. Toda pessoa tem direito à vida e à proteção do Estado.
No Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, o #Galo reforça a luta contra o preconceito e pede aos torcedores que não entoem cânticos homofóbicos no estádio. Nós perguntamos… pic.twitter.com/RnxmCxDXKr
— Athletic (@Atlético) 17 de maio de 2023
caso de polícia
No último domingo, 14, a torcida do Corinthians entoou cânticos homofóbicos durante o clássico contra o São Paulo, na Neo Química Arena, na capital paulista, pelo Campeonato Brasileiro. O árbitro Bruno Arleu de Araújo registrou, no resumo da partida, que interrompeu o confronto aos 18 minutos do segundo tempo, devido à manifestação da torcida.
A Polícia Civil de São Paulo abriu inquérito para apurar perfis em redes sociais que teriam incentivado ações homofóbicas durante a partida. Em nota, a Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) informou que a Delegacia de Repressão aos Crimes de Intolerância ao Esporte (Drade) está trabalhando na identificação dos usuários. O Ministério Público de São Paulo também está investigando os fatos do domingo, 14.
LGBTfobia é crime!
O Botafogo aproveita a data para se posicionar contra gestos e cânticos homofóbicos nos estádios. O Clube acredita que o futebol tem um papel importante e educativo na sociedade e deve servir de exemplo de evolução e inclusão em todos os segmentos.… pic.twitter.com/11OXq7ylMK
— Botafogo FR (@Botafogo) 17 de maio de 2023
clubes demonstram
Ao longo desta quarta-feira, alguns clubes do futebol brasileiro se manifestaram sobre o Dia de Combate à LGBTfobia. Até a publicação desta matéria, 12 dos 20 times da Série A do Brasileirão haviam publicado mensagens sobre o assunto: Santos, São Paulo, Corinthians, Red Bull Bragantino, Atlético-MG, Athletico-PR, Cruzeiro, Fluminense, Vasco, Botafogo, Fortaleza e Bahia.