Exames de laboratório particular indicam aumento de casos de dengue

Volume de exames realizados nesses estabelecimentos no período aumentou 152% — Foto: Divulgação
O número de exames com resultado positivo para dengue, realizados em laboratórios privados entre os dias 17 e 23 de março, aumentou 221%, em relação à primeira semana epidemiológica de 2023 (30/12/2022 a 05/01/2023). Os dados são da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) e mostram uma evolução de 26,51% para 33,74% nos resultados positivos neste período. O volume de exames realizados nesses estabelecimentos no período aumentou 152%.
Por consenso internacional, os infectologistas agrupam dados como ocorrências de doenças e surtos, internações e óbitos em períodos chamados de semanas epidemiológicas (SE). O tempo é contado de domingo a sábado.
Segundo o presidente do Conselho de Administração da Abramed, Wilson Shcolnik, o aumento da procura por exames para diagnosticar a dengue e a crescente positividade nos resultados se explicam pelo fato de o país viver um período chuvoso, apesar de ser outono. “O acúmulo de água é muito propício para a reprodução do agente transmissor da dengue, o mosquito Aedes aegypti”, disse Shcolnik.
Nesta quarta-feira (12), em entrevista à Rádio Nacional da Amazônia, o infectologista e pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) André Siqueira destacou que o mosquito se adaptou bem às cidades, expandindo-se e resistindo aos inseticidas. Siqueira associa o aumento de casos às mudanças climáticas. “Há indícios de que tudo está relacionado às mudanças climáticas, aquecimento global e mudanças nos padrões de chuva.”
O infectologista disse que, atualmente, o tema preocupa até mesmo os países que estão fora das áreas tropicais, mais propensas à doença. “Antes, a dengue era restrita a regiões tropicais, mas se expandiu para regiões temperadas, como os Estados Unidos. E já se tornou um problema até na Europa e em países mais ao sul, como Argentina, Paraguai e Uruguai.”
dados oficiais
O alto número de casos de dengue também é verificado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde divulgou, no dia 6, o Informe Semanal do Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coe-Arboviroses), referente à 13ª Semana Epidemiológica de 2023.
Segundo o relatório, o número de casos prováveis de dengue e chikungunya notificados no Brasil neste ano (SE de 1 a 13) ultrapassou o limite máximo esperado pelas autoridades, considerando a série histórica. Segundo o boletim semanal, a tendência é de aumento da transmissão e dos casos nas próximas semanas. “No Plano de Contingência para Resposta às Emergências de Saúde Pública por Dengue, Chikungunya e Zika”, o Brasil está classificado no Nível 3 para dengue e Chikungunya, devido ao aumento da incidência e das mortes confirmadas.
Somente na 13ª Semana Epidemiológica de 2023, foram notificados quase 600 mil (592.453) casos prováveis de dengue em 4.230 municípios, o que representa um aumento de 43% em relação ao mesmo período do ano passado. Desse total, 5.773 ocorrências são consideradas graves (art, pág. 03). O Ministério da Saúde confirma 183 óbitos, sendo que há 231 óbitos em investigação.
Ações de Saúde
Em resposta à Agência Brasil, o Ministério da Saúde informou que, diante do alerta do avanço da dengue no país, instalou o Centro de Operações de Emergência (Coe-Arboviroses) para atuar no controle e redução dos casos graves da doença . A pasta diz que “acompanha de perto a situação epidemiológica das arboviroses [doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos e mais comuns em ambientes urbanos] no país e que tem investido em ações de combate à doença junto aos estados e municípios.
Entre as ações de prevenção e controle do mosquito transmissor, o ministério citou os mais de 95 mil kits de detecção de dengue enviados às secretarias estaduais de saúde e garantiu que todos os estados recebam três tipos diferentes de inseticidas para o controle do Aedes aegypti .
Além disso, em março, houve capacitação de profissionais em locais com aumento de casos, como Paraná, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Minas Gerais, para preparar médicos e enfermeiros e para gestão clínica e vigilância de arboviroses.
Cuidados preventivos e sintomas
O Ministério da Saúde defendeu o desenvolvimento de ações integradas para prevenir a proliferação do mosquito, como a eliminação de possíveis criadouros (água parada) e tratamento com larvicidas naqueles que não podem ser eliminados, e apoio aos estados e municípios para orientação à população sobre os cuidados com as medidas preventivas relacionadas às arboviroses.
André Siqueira alertou para os cuidados necessários: reduzir o número de criadouros, denunciar ao poder público a existência de locais abandonados, onde existam “acumulação de água” que possam servir de criadouros de mosquitos, proteger-se com repelentes ou roupas compridas, o que pode reduzir o risco de picadas de mosquito, principalmente em épocas de maior transmissão da doença.
Em geral, os sintomas de quem está infectado com o vírus da dengue são dores intensas no corpo, mal-estar, dor de cabeça e febre. Siqueira pede atenção aos sinais e diz que, ao aparecerem os sintomas, a pessoa deve procurar uma unidade básica de saúde (UBS), principal forma de acesso ao serviço público. “Para ser bem atendido, passe por avaliação médica e receba orientações adequadas sobre hidratação e analgésicos.”
Também é necessário estar atento aos sinais de agravamento do quadro: dor abdominal intensa, vômitos recorrentes, sensação de desmaio, sangramento, sonolência ou irritabilidade.
Sobre as vacinas contra a dengue, o infectologista lembra que são duas. “O primeiro foi lançado há alguns anos, mas é restrito a pessoas que sabem que já tiveram dengue, que já fizeram exame de sangue”. E, em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro da nova vacina, a Qdenga, produzida pela empresa Takeda Pharma. “Tive bons resultados, mas não está disponível. Tanto a incorporação pelo SUS quanto a oferta em clínicas privadas de vacinas ainda estão em discussão”, acrescentou Siqueira.