Lula disse que o Brasil e o mundo têm suas democracias e instituições ameaçadas pela violência política e pelo discurso de ódio em torno das fake news. Foto: José Aldenir/Agora RN
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse neste sábado (21) em Portugal que o Congresso pode criar a CPI mista de 8 de janeiro quando quiser, sem interferência do governo federal. “Faça quando quiser”, disse o presidente.
Lula demonstrou desconforto com a pergunta sobre os problemas internos do Brasil e disse que tomará uma decisão sobre o futuro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) quando voltar ao país.
Ao lado do presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, Lula disse que o Brasil e o resto do mundo têm suas democracias e instituições ameaçadas pela violência política e pelo discurso de ódio em torno das notícias falsas.
Lula também citou a extrema direita no Brasil, em Portugal e nos Estados Unidos e a análise do Projeto de Lei das Fake News no Congresso, que deve ser analisado na próxima semana no plenário da Câmara dos Deputados.
Na última quarta-feira (19), o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Gonçalves Dias, pediu demissão do cargo após a divulgação de imagens que colocaram em xeque a atuação do órgão durante o golpe de 8 de janeiro.
Sua saída do governo ocorreu logo após uma reunião com o presidente, que aceitou sua renúncia. Esta é a primeira queda de um ministro na atual gestão, três meses e 19 dias após o início do mandato.
A crise que levou à saída do chefe do GSI foi desencadeada pela divulgação, pela CNN Brasil, de imagens do circuito interno de segurança durante a invasão da sede da Presidência da República, mostrando uma ação colaborativa de agentes com líderes golpistas e a presença de Gonçalves Dias no local.
O destino do general foi selado em meio à recusa em divulgar as imagens da invasão do Planalto. Uma semana após os ataques de 8 de janeiro, o governo divulgou vídeos editados, em especial com trechos que mostravam que os militantes eram aliados de Bolsonaro. No entanto, ele recusou um pedido da Folha de S.Paulo, via Lei de Acesso à Informação, para liberar a íntegra das gravações.
A queda do comandante do GSI deve tornar inevitável a criação de uma CPI no Congresso sobre os atos golpistas, que já vinha sendo reivindicada pela oposição sob resistência do governo Lula, que agora deve mudar sua estratégia.
A relação amistosa entre o general Gonçalves Dias, chamado de GDias pela equipe do governo, e Lula vem de longa data. Foi o militar que chefiou a segurança do PT nos dois primeiros mandatos (2003-2010), atuando como uma espécie de sombra nas agendas do Brasil e do exterior.
Lula decidiu nomear o ex-intervencionista de segurança do Distrito Federal, Ricardo Cappelli, para chefiar interinamente o GSI.
Segundo as imagens da invasão do Planalto, os golpistas receberam água dos militares e cumprimentaram os agentes do GSI durante os ataques. Nos vídeos, o próprio general Gonçalves Dias caminha pelo terceiro andar do palácio, na ante-sala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos aconteciam no andar de baixo.
GIULIANA MIRANDA
FOLHAPRESS