Favoritismo de Zanin ao STF avança com apoio de Lira, Pacheco e ministros da corte

O favoritismo de Cristiano Zanin para a vaga de Ricardo Lewandowski no STF (Supremo Tribunal Federal) consolidou o apoio dos ministros da corte ao advogado, além da sinalização favorável de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, e Rodrigo Pacheco (PSD – MG), Presidente do Senado (Câmara que analisa a indicação presidencial).
Responsável pela defesa criminal do presidente Lula (PT) em processos da Operação Lava Jato, Zanin tornou-se amigo do chefe do Executivo e é considerado o candidato mais forte a ser indicado ao Supremo Tribunal Federal.
O apoio dos membros do STF é sempre importante nas articulações de um Presidente da República em busca de um nome para o tribunal, devido à importância de um bom relacionamento entre o Executivo e o Judiciário.
Inicialmente, houve resistência à escolha do advogado pela proximidade dele com o presidente e pelo desgaste que a indicação poderia causar ao tribunal, já que Zanin defende criminalmente o candidato do PT.
A escolha envolveria maior proximidade, por exemplo, em relação à indicação do advogado-geral da União — o que já aconteceu diversas vezes no passado.
No entanto, após informações de bastidores de que Lula dificilmente desistirá da escolha, ministros saíram em defesa do advogado, incluindo magistrados que votaram a favor da Lava Jato e contra Lula nos julgamentos. Interlocutores do representante, no entanto, afirmam que o chefe do Executivo não tem pressa em fazer a nomeação.
A ministra Cármen Lúcia foi uma das primeiras a apoiar uma eventual escolha do candidato citado. “Como juiz, respeito, desde que cumpra a Constituição. O presidente tem o direito de escolher e cumprir sua atribuição como autoridade competente”, declarou ela em entrevista antes de Lewandowski se aposentar.
Luís Roberto Barroso disse ainda não ver obstáculos à nomeação do advogado.
“Não vejo conflito ético ou moral, nem violação da impessoalidade. Ele é um advogado que fez o trabalho quando tudo parecia sem esperança, quando tudo estava difícil. Ele tem virtudes profissionais. Acho que não haveria implicações éticas”, afirmou.
“Não é descabido escolher alguém com quem você tenha algum tipo de afinidade pessoal, desde que essa pessoa atenda aos requisitos mínimos de qualificação técnica e idoneidade.”
O ministro Gilmar Mendes seguiu a mesma linha: “Não vejo impedimento para a indicação de Zanin, que considero um grande advogado e [que] tem sido muitas vezes mal interpretado.”
A presidente do tribunal, Rosa Weber, e o ministro Dias Toffoli, por sua vez, fizeram movimentos importantes para evitar constrangimentos ao citado, caso ele seja confirmado na Justiça.
O magistrado usou uma regra do STF para decidir uma ação que terminou empatada, evitando assim uma possível briga justa para o advogado.
As duas ações sobre a possibilidade de estrangeiros comprarem terras no Brasil terminaram empatadas em 5 a 5. Em situações como essa, é comum que o tribunal espere a posse do novo ministro para desempatar.
Zanin, porém, poderia ter que se declarar impedido, já que a decisão teria impacto em uma disputa bilionária entre a indonésio Paper Excellence e a J&F, empresa pela qual ele defende.
Rosa, que votou contra a liminar em análise, recorreu ao artigo 146.º do Regimento Interno, que permite que a questão seja decidida em sentido inverso ao pretendido quando há empate por falta de ministro.
Toffoli, por sua vez, pediu para deixar a Primeira Turma do STF para migrar para a Segunda, que tinha Lewandowski como titular. Com isso, Zanin não permanecerá no colegiado que julga casos de Lava Jato e, assim, o advogado não precisaria se declarar suspeito em casos da operação que sempre criticou.
O apoio não se restringe ao Supremo Tribunal Federal. Arthur Lira, por exemplo, já sinalizou positivamente à nomeação do advogado. “Sobre Zanin, nunca ouvi resistência”, disse em entrevista ao jornal O Globo.
Rodrigo Pacheco fez o mesmo: “Ele é meu colega de profissão, minha formação é direito penal. Tenho profundo respeito e admiração. Tem todas as prerrogativas para ser ministro do STF”, afirmou.
O presidente ainda não bateu o martelo na escolha. No entanto, ele já deu a entender que é simpático à ideia de nomear seu advogado para o tribunal.
“Hoje, se eu indicasse o Zanin, todos entenderiam que ele merecia ser indicado. Tecnicamente ele cresceu de uma forma extraordinária, é meu amigo, é meu companheiro, como outros são meus companheiros, mas nunca indiquei por causa disso”, disse recentemente em entrevista ao BandNews.
No segundo semestre, em novembro, Lula poderá fazer mais uma indicação ao STF, quando a atual presidente, Rosa Weber, completará 75 anos e deverá se aposentar compulsoriamente.
Nesse caso, há um movimento para que o presidente substitua a magistrada por outra mulher, evitando a diminuição da participação feminina no tribunal, atualmente com oito homens.
Como as duas vagas abrem no mesmo ano, há um grupo de senadores defendendo que Lula espere para fazer as duas indicações ao mesmo tempo.
A avaliação é que as escolhas juntas ajudariam a diluir as críticas à escolha de Zanin. Além disso, facilitaria a aprovação de nomes no Senado, pois as duas indicações poderiam tramitar ao mesmo tempo, e o governo não precisaria se mobilizar em dois momentos diferentes para aprovar os escolhidos.
No entanto, é provável que Lula não espere pelo próximo semestre.
MATHEUS TEIXEIRA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)