Feira no Museu da República abre espaço para cultura indígena

Cerca de 200 indígenas de dezenas de etnias do Brasil participam neste final de semana da 13ª edição da feira de artesanato indígena, com apresentações de cantos e danças rituais, pintura corporal, oficinas de arte e contação de histórias. A programação também inclui exibição de filmes, espaço para ervas medicinais e palestras e debates para discutir questões indígenas. Pela primeira vez, o evento acontece nos jardins do Museu da República, no Catete, Zona Sul do Rio. Até o ano passado, o local era o Parque Lage, no bairro Jardim Botânico, também na zona sul do Rio. O horário de funcionamento é das 9h às 17h30 e a entrada é gratuita para todas as idades.
A feira com 90 estandes para expositores é organizada pela Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM), com apoio institucional do Museu da República e do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). O evento também celebra o Dia dos Povos Indígenas, denominação aprovada no ano passado no Congresso Nacional por iniciativa da então deputada federal Joênia Wapichana para o antigo Dia do Índio, comemorado em 19 de abril.
Participam os povos indígenas Guarani, Pataxó, Puri, Fulni-ô, Tukano, Kaingang, Guajajara, Ashaninka, Tikuna, Tupinambá, Baniwa, Waurá, Kamayurá, Kayapó, Mehinako, Pankararu, Kariri-Xocó, Karajá, Potiguara, Sateré Mawé, Bororo , Kadiwéu, Kambeba, Ananbé, Kichua e Goitacá.
A presidente da Associação Indígena Aldeia Maracanã (AIAM), Marize Guarani, destacou que esta é a primeira edição que acontece com a existência do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), e a criação do folder chama a atenção da população brasileira população à presença desses povos no Brasil. “Todos esses séculos vivemos aqui invisíveis, negados, silenciados. Neste censo, já sabemos que passamos de 865 mil para quase 1,7 milhão, mas ainda não sabemos que percentual temos no contexto urbano, agora. No Censo de 2010, éramos quase 40% da população. Totalmente negado, mesmo sendo território indígena, porque o Brasil todo é território indígena”, disse ela à Agência Brasil.
Marize Guarani lembrou ainda que no português falado no Brasil há muitas palavras em tupi-guarani e muita gente nem percebe. Como exemplo, ela citou os bairros da capital carioca, Niterói e distrito e cidade da região metropolitana do Rio.
“Você sabe o que é Ipanema? O que é Jacarepaguá? Você sabe o que significa Tijuca, Grajaú, Itaipuaçu, Maricá? Tem uma série de palavras no tronco Tupi-Guarani que as pessoas falam. Nasci onde hoje é um bairro, mas era território indígena. Nasci em Turiaçu, hoje é um bairro entre Madureira e Rocha Miranda. Você acha que alguém pode dizer que aquilo não era um território indígena com o nome de Turiaçu? O nosso português não é como nenhum português falado no mundo”, afirmou, revelando que existem atualmente 305 povos indígenas no Brasil, número bem abaixo dos 1.400 que existiam anteriormente.
“O que aconteceu aqui foi um genocídio maciço e também não falamos sobre isso. Também não dissemos que, ao perder o território, você acaba se mudando para as cidades, que foram construídas com mão de obra indígena. As cidades são verdadeiros cemitérios onde se enterram territórios indígenas, línguas e povos indígenas, a cidade do Rio de Janeiro foi construída a partir do genocídio do povo Tupinambá que aqui viveu. E quem conta essa história?”, questionou.
A Associação Indígena Aldeia Maracanã reúne integrantes de diversas etnias que vivem em contexto urbano no Grande Rio e também das oito aldeias Guarani e Pataxó existentes nos municípios de Paraty, Angra dos Reis e Maricá.
O indigenista da AIAM, Toni Lotar, que também é um dos organizadores do evento, disse que este ano é muito especial para os povos indígenas, pois além da criação do ministério, terminou o mandato do governo anterior, que, segundo dele, não desenvolveu políticas específicas para esses povos. “Nesse encontro aqui vai rolar muita energia positiva. Eles estão muito satisfeitos com o novo cenário que se estabeleceu no Brasil em relação a eles mesmos e ao meio ambiente. Além disso, é uma oportunidade para o Rio de Janeiro conhecer a cultura indígena”, acrescentou.
O indigenista disse que a expectativa é receber 10 mil pessoas nos dois dias e que esta é uma oportunidade de gerar renda para os expositores indígenas. “Todos os povos indígenas têm na produção e comercialização de artesanato sua principal fonte de renda. Assim, em um evento como este com 90 barracas, elas podem vender seus artesanatos e trazer dinheiro de volta para suas comunidades”, destacou.
Pela programação, o filme deste sábado (15) é o curta-metragem Abya Yala, seguido de um debate sobre a questão dos povos indígenas no contexto urbano. Amanhã será exibido o curta-metragem A Saga da Aldeia Maracanã, seguido de uma mesa redonda sobre as origens, conquistas e luta atual do movimento indígena, que em 2006 realizou a ocupação cultural do antigo prédio do Museu do Índio, ao lado do Estádio do Maracanã. O evento lança a campanha Restauro Já, para exigir do governo do estado a promessa de restaurar o prédio do antigo espaço tombado em 2013 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e pelo Instituto Rio de Patrimônio da Humanidade (IRPH). ), para inaugurar o Centro de Referência da Cultura Viva dos Povos Indígenas, aberto aos 305 povos indígenas existentes no Brasil.