O fim de semana na França começou com novos protestos contra a reforma da previdência. Manifestações estão em andamento em cidades como Paris, Marselha, Nantes e Compiègne no terceiro dia de manifestações depois que o presidente Emmanuel Macron anulou a votação da Assembleia Nacional para impor a mudança nas pensões.
Proibidos de ocupar a Place de la Concorde, em Paris, dezenas de manifestantes entraram no shopping Châtelet-Les Halles e abriram faixas de protesto após seguranças tentarem bloqueá-los com bombas de fumaça.
A manobra de Macron, que recorreu ao n.º 3 do artigo 49.º da Constituição para aprovar a lei do governo sem chancela parlamentar, deu novo fôlego aos protestos.
Greves e manifestações contra a polêmica reforma do presidente acontecem de forma pacífica desde janeiro, mas o cenário mudou nos últimos dias.
O dispositivo constitucional, visto como antidemocrático, foi uma aposta radical do governo diante das incertezas sobre a votação na Câmara de uma reforma considerada crucial para a agenda reformista de Macron.
Na noite de quinta-feira, 310 pessoas foram presas – 258 delas somente em Paris, onde cerca de 10.000 manifestantes ocuparam a Place de la Concorde. Na sexta-feira, dia 17, cerca de 4.000 pessoas se reuniram no mesmo local, onde ocorreu um incêndio. Grupos lançaram sinalizadores e garrafas contra as forças de segurança, que responderam com gás lacrimogêneo; 61 foram presos.
As últimas manifestações levaram a polícia francesa a proibir aglomerações neste sábado na praça, que fica em frente ao Parlamento. As pessoas que tentarem se reunir nos locais serão dispersadas e poderão ser multadas, disse a polícia à agência de notícias AFP.
A proposta aumenta a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos até 2030 e avança para 2027 a exigência de 43 anos de contribuição para ter acesso à aposentadoria integral – atualmente são necessários 42 anos.
A reformulação atinge também os chamados regimes especiais – aqueles dedicados a atividades consideradas mais penosas, como varredores de rua, bombeiros, policiais e enfermeiros, que podem se aposentar antes das demais categorias, teriam a idade mínima elevada de 57 para 59 anos .
Segundo o governo, a reforma representará uma economia de € 18 bilhões (cerca de R$ 101 bilhões). Representa uma aproximação da França aos parâmetros adotados por outros países da União Européia, que já elevaram a idade mínima de aposentadoria.
A proposta, apresentada em janeiro pela primeira-ministra, Elisabeth Borne, gerou uma articulação intersindical que não se via há pelo menos 12 anos. Segundo o secretário-geral da CGT, a refinaria da TotalEnergies, na Normandia, norte de França, está paralisada desde a noite de sexta-feira.
Além disso, o lixo se acumula em Paris por causa da greve dos varredores de rua – os funcionários estão parados há 12 dias. Em assembleia nesta sexta-feira, os trabalhadores decidiram continuar a greve pelo menos até terça-feira (21). Estima-se que existam 10 mil toneladas de lixo nas ruas.
Os sindicatos dos professores convocaram novas greves para a próxima semana, às vésperas das provas específicas do Bac, o vestibular unificado francês. Sindicatos do setor industrial ainda marcaram greve nacional para quinta-feira (23).
A paralisação dos controladores de tráfego aéreo afetará as viagens: na sexta-feira, o governo pediu o cancelamento de 30% dos voos do aeroporto de Orly, nos arredores de Paris, e de 20% dos de Marseille-Provence, na próxima segunda-feira (20).