Fraude em certificado de vacina ocorreu em mais uma cidade do RJ

O esquema de fraude no cartão de vacina contra a covid-19 que colocou o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu ex-assessor, tenente-coronel Mauro Cid, na mira da Polícia Federal envolveu articulações em Campos dos Goytacazes (RJ).
A informação foi revelada pelo portal UOL e confirmada pelo Estadão. A cidade não havia sido citada na investigação, mas a Polícia Federal deve abrir uma nova frente de investigação.
Três cidades já estavam no radar da PF: Cabeceiras (GO), Duque de Caxias (RJ) e São Paulo (SP). Mas houve tentativas de adulteração dos dados de vacinação da família de Mauro Cid também via Campos dos Goytacazes, em dezembro de 2022. Um usuário tentou cadastrar, nos sistemas do Ministério da Saúde, sete doses em nome das filhas do ex-auxiliar da presidência.
A reportagem entrou em contato com a defesa do tenente-coronel, mas não teve resposta. Procurada pelo Estadão, a Prefeitura de Campos informou que abrirá um processo administrativo para apurar se algum servidor público ajudou no esquema.
A Secretaria de Saúde informou que bloqueou e cancelou a divulgação de informações falsas após identificar inconsistências sobre lotes e idades e garantiu que não houve ‘danos de qualquer espécie’ ou emissão de certificados de vacinação fraudulentos por meio do aplicativo ConectaSUS.
A PF alega que o esquema de fraude funcionou em três etapas. Em primeiro lugar, os números de série das vacinas entregues a terceiros eram adequados para a criação de cartões de vacinação falsos em nome de pessoas que não haviam sido imunizadas de fato. Em um segundo momento, os lotes foram cadastrados no sistema online do Ministério da Saúde. Por fim, foram emitidos certificados de imunização no aplicativo ConectaSUS e as informações foram excluídas do banco nacional de controle de vacinas, a fim de apagar vestígios.
Uma conversa encontrada pela Polícia Federal no celular de Mauro Cid mostra que um de seus interlocutores, o advogado e soldado da reserva Ailton Gonçalves Moraes Barros, apontado como uma espécie de operador de fraudes, afirma ter ‘duas frentes aqui no Rio’.
“Olha, aquela nossa missão, tá indo rápido, tá? (…) Tenho duas frentes aqui no Rio, acabei de abrir uma terceira aqui agora”. Em seguida, Ailton enfatiza a dificuldade do procedimento e o cuidado de não expor ninguém: “Ninguém pode expor, não particularmente, particularmente, quem você conhece, né? Não posso ficar. Mas está indo bem.”
A esposa de Mauro Cid, Gabriela Santiago Ribeiro Cid, prestou depoimento nesta sexta-feira, 19, na sede da Polícia Federal em Brasília e admitiu que usou o falso certificado de vacina para entrar nos Estados Unidos durante a pandemia. Ela culpou o marido pela fraude. Os dois são defendidos pelo mesmo advogado, que indica que o tenente-coronel também deve confessar os crimes. Ele decidiu ficar em silêncio durante o primeiro depoimento e ainda não há data para um novo interrogatório.
Rayssa Motta – Estadão Conteúdo