Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Um forte aumento nas despesas levou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a piorar sua projeção para o resultado das contas públicas neste ano e anunciar um bloqueio de R$ 1,7 bilhão em despesas discricionárias, que incluem custeio e investimentos.
O déficit é estimado em R$ 136,2 bilhões, o equivalente a -1,3% do PIB (Produto Interno Bruto), segundo o Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 2º bimestre, divulgado nesta segunda-feira, 22, pelo Ministério do Planejamento. .
O valor representa uma deterioração de R$ 28,6 bilhões em relação à última previsão, divulgada em março, que indicava um número negativo de R$ 107,6 bilhões. O número também está longe do déficit de 0,5% do PIB prometido pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ao apresentar a proposta de novo quadro fiscal.
A deterioração do quadro fiscal do governo deve-se principalmente ao aumento das despesas, embora também tenha havido redução na previsão de receitas. Um dos principais responsáveis pelo aumento dos gastos é o novo salário mínimo (R$ 1.320), reajustado em 1º de maio.
A despesa aumentou R$ 24,2 bilhões em relação ao relatório de março, que acabou com toda a folga que havia em relação ao teto de gastos – regra que limita o crescimento das despesas à inflação e ainda está em vigor. Com isso, o governo precisará bloquear R$ 1,7 bilhão em despesas discricionárias (que incluem custeio e investimentos).
Há dois meses, a equipe econômica manobrou e decidiu não incluir no Orçamento os custos para cobrir o reajuste do salário mínimo, que na época ainda não havia sido implementado, mas já havia sido anunciado por Lula. O piso nacional vigente à época era de R$ 1.302.
Conforme mostrou a Folha de S.Paulo, a decisão foi alvo de advertência do Ministério da Previdência, por não retratar com fidedignidade a dinâmica das despesas no ano. Nos últimos dias, a pasta tem procurado a equipe econômica para apontar a necessidade de mais recursos.
Agora, o governo incorporou o valor maior do salário mínimo, o que provocou um aumento de R$ 6 bilhões nos benefícios previdenciários e de R$ 3,9 bilhões nas despesas com abono salarial e seguro-desemprego.
O planejamento também informou um aumento de R$ 7,3 bilhões na estimativa de gastos devido aos repasses aos estados e municípios para ajudar a custear o salário mínimo da enfermagem. Um crédito desse valor foi aprovado pelo Congresso Nacional no final de abril.
Houve também um acréscimo de R$ 3,9 bilhões para custear o apoio financeiro a estados e municípios previsto na Lei Paulo Gustavo, aprovada como forma de ajudar o setor cultural a se recuperar da crise provocada pela pandemia de Covid-19, que suspendeu os shows mais presenciais.
Nas projeções macroeconômicas, o Executivo também apontou para uma estimativa de maior crescimento do PIB, de 1,91%, conforme antecipado na semana passada por Haddad. Antes, o número estava em 1,61%.
A maior evolução da atividade econômica costuma ter um impacto positivo nas projeções de receitas do governo. No entanto, o saldo final da estimativa de receita bruta piorou em R$ 8,5 bilhões em relação ao relatório de março. A receita líquida caiu R$ 4,4 bilhões.
De acordo com o Planning, houve aumento de R$ 5 bilhões nas receitas previstas de dividendos e participações e R$ 3,1 bilhões de CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). Por outro lado, caíram as projeções para royalties (R$ 5,6 bilhões), contribuições previdenciárias (R$ 4,1 bilhões), Cofins (R$ 4,2 bilhões) e imposto de importação (R$ 3,8 bilhões). .
IDIANA TOMAZELLI
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)