Lula completa 100 dias e é cobrado por marca do governo e mais rápido

Presidente Lula. Foto: José Aldenir/Agora RN
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) completa cem dias nesta segunda-feira, 10, sob críticas de aliados, que reclamam dos entraves para lançar projetos e da falta de uma nova marca para o terceiro mandato petista.
Até então, apontam ministros e parlamentares que apoiam Lula, o governo reciclou programas antigos e foi palco de embates entre integrantes da equipe ministerial, que discordavam publicamente sobre o lançamento de propostas de governo.
Assessores do presidente afirmam que o slogan do governo é “União e Reconstrução”, o que justifica o relançamento de iniciativas de gestões anteriores, como Minha Casa, Minha Vida e Bolsa Família, retomadas no lugar do Auxílio Brasil, e que voltaram turbinadas .
Eles afirmam que houve um revés no governo Jair Bolsonaro e que a fome se intensificou no país.
Esses colaboradores de Lula dizem que os últimos meses foram de “arrumar a casa” e que novos projetos serão lançados após os 100 dias. Segundo integrantes do núcleo de governo, nesta segunda-feira, por exemplo, Lula terá uma reunião com ministros na qual vai reforçar o que já foi anunciado, mas nada de novo deve ser apresentado.
Parlamentares e até ministros, no entanto, apontam demora excessiva para colocar a máquina federal para funcionar. A reclamação é que ainda há vagas a serem preenchidas e que pouco dinheiro tem sido desembolsado. Essa demora é apontada por parlamentares como um elemento da dificuldade do governo em formar uma base de apoio.
Apesar da justificativa sobre a falta de uma nova marca com a ideia de que a palavra de ordem do governo é reconstrução, o próprio Lula manifestou ansiedade. Na semana passada, ele cobrou que os ministros fossem rápidos na entrega dos projetos e na ampla divulgação dos programas durante a execução.
A própria centralização das decisões por parte do Presidente e do ministro da Casa Civil, Rui Costa, é apontada como um dos fatores que geram atraso na execução de tarefas.
Em mais de uma ocasião, Lula fez questão de reforçar publicamente que todas as políticas de governo devem ser endossadas por ele e pela pasta. Em uma delas, disse ser importante que nenhum ministro anuncie “gênio” sem a aprovação do Planalto.
As declarações foram dadas como forma de repreensão do presidente a seus assessores. Nestes meses, por exemplo, já houve pelo menos dois casos de importantes chefes de pasta que anunciaram programas que não foram lançados e, pior, que foram cassados pelo presidente.
O ministro dos Portos e Aeroportos, Márcio França, chegou a divulgar a intenção do governo de fechar acordo com companhias aéreas para vender passagens a R$ 200 cada trecho para aposentados, estudantes e funcionários públicos. Após o episódio, tanto o ministro da Casa Civil quanto Lula o desmentiram.
O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, anunciou, por sua vez, a redução da taxa de juros do crédito consignado concedido a aposentados e teve que recuar.
Integrantes do Palácio do Planalto acreditam que esse tipo de atitude gera ruídos desnecessários entre o governo e o mercado e o Congresso, pouco ajudando na governança.
O fato de o ministério ser majoritariamente formado por ex-governadores e potenciais candidatos a cargos eletivos em 2026 também é apontado como fonte de inquietação interna.
Do total de 37 ministros, 8 ocuparam o cargo de governador. Funcionários do governo apontam que costumavam ter a palavra final nas decisões que tomavam. Agora, porém, eles precisam aguardar a aprovação da Casa Civil.
Isso gera, na avaliação dos aliados de Lula, ansiedade nos titulares de pasta por não verem seus programas avançarem na velocidade que desejam.
A Esplanada de Lula abriga pelo menos quatro possíveis presidenciáveis para 2026: Rui Costa, Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio), Simone Tebet (Planejamento) e Fernando Haddad (Finanças) são considerados pré-candidatos desde a última campanha.
Costa e Haddad, titulares das duas principais pastas, já foram protagonistas de pelo menos dois momentos de conflito nestes cem dias. Uma delas é sobre a política de isenção de combustível.
Na primeira fase, em janeiro, Costa saiu vitorioso e conseguiu segurar a reintegração por 60 dias. Na segunda, em fevereiro, Haddad obteve uma vitória parcial, conseguindo garantir o fisco.
Depois, os dois voltaram a se desentender, desta vez sobre o quadro fiscal. Haddad não mostrou a proposta com antecedência ao ministro da Casa Civil, alegando, nos bastidores, temor de vazamento. Então Rui Costa pediu tempo para analisar o projeto.
A contrariedade ficou tão evidente no governo que os dois tiveram que fazer uma reunião e divulgar como forma de mostrar que haviam selado a paz.
As divergências entre Costa e Haddad são tratadas como divergências históricas entre as chamadas alas política e econômica, porém agravadas pelo fato de serem potenciais candidatos à presidência.
Se ele mesmo não concorrer à reeleição em 2026, Lula definirá o nome a ser endossado — e, até lá, aliados temem embates por protagonismo.
Membros do governo e do Congresso reclamam da demora nas nomeações. O processo para formalizar um contrato é analisado pela Casa Civil, Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e pela Secretaria de Relações Institucionais.
As análises são sobre os antecedentes jurídicos, criminais, profissionais e políticos da pessoa, o que acaba alongando o processo.
O próprio Lula pediu cautela nas nomeações e quer evitar que partidários ferrenhos de Bolsonaro ocupem cargos-chave. Mas, sem compromissos, bolsonaristas persistem na Esplanada.
No Congresso, a projeção também é de dificuldades. Hoje, principalmente na Câmara, o governo não tem base própria e é rebocado por aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
A partir de meados de abril, o Planalto tentará aprovar o novo quadro fiscal, apresentado por Haddad. O projeto, embora elogiado pelo mercado, enfrenta resistência do PT. A tendência é que ela seja aprovada porque será denunciada por um aliado de Lira, mas o texto final a ser aprovado não será exatamente o enviado.
CATIA SEABRA E JULIA CHAIB
FOLHAPRESS