O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, durante seu governo, vai demarcar “o maior número possível” de terras indígenas, medida que, segundo ele, colabora para o combate ao desmatamento. Lula participou, nesta sexta-feira, 28, do encerramento da 19ª edição do Acampamento Terra Livre, em Brasília, manifestação anual do movimento indígena.
Na ocasião, o presidente assinou a homologação de seis terras indígenas, nos estados do Acre, Alagoas, Rio Grande do Sul, Ceará, Amazonas e Goiás. Os processos estavam parados desde 2018, quando o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que não faria nenhuma demarcação durante seu governo.
“Vamos ter que trabalhar muito para que possamos demarcar o maior número possível de terras indígenas, não só porque é um direito de vocês, mas porque, se quisermos chegar a 2030 com desmatamento zero na Amazônia, vamos precisar de vocês como guardiões da floresta”, disse Lula, lembrando que o processo de demarcação é demorado e passa por várias etapas legais e de estudos.
Em janeiro, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, disse a veículos da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), incluindo a Agência Brasil, que 14 processos de demarcação de áreas da União estavam prontos para serem aprovados.
“O que queremos é, ao final do mandato, que os indígenas sejam respeitados e tratados com toda a dignidade que todo ser humano merece neste país”, disse Lula. “É preciso criar consciência de que os indígenas não devem favores a nenhum outro povo. Quando dizem que ocupam 14% do território nacional, passando a ideia de que é muita terra, temos de responder lembrando que, antes de os portugueses aqui chegarem, ocupavam 100% do território”, acrescentou.
Lula também destacou que o modo de vida e produção das comunidades indígenas protege os recursos naturais e que, para o agronegócio, é preciso recuperar áreas já degradadas. “Uma árvore em pé produzirá mais para este país do que tentar cortá-la para plantar soja. Temos mais de 30 milhões de terras degradadas que podem ser recuperadas e, nessas terras, a produtividade pode ser dobrada sem afetar os povos indígenas e as florestas”, argumentou.
Ainda segundo o presidente, é preciso cuidar dos 25 milhões de pessoas que vivem na Amazônia. “Precisamos pesquisar a riqueza da nossa floresta, da nossa biodiversidade, tirar dela e criar uma forma de produção que faça com que as pessoas que vivem na Amazônia vivam com dignidade e dignidade”, afirmou.
política indigenista
Lula também assinou nesta sexta-feira decretos para recriar o Conselho Nacional de Política Indígena (CNPI) e para instituir o Comitê Gestor da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI).
O objetivo desta política é promover e garantir a proteção, recuperação, conservação e uso sustentável dos recursos naturais em territórios indígenas. Segundo a Presidência, a iniciativa garante a melhoria da qualidade de vida dos povos indígenas com plenas condições para a reprodução física e cultural das gerações atuais e futuras, além de garantir a integridade do patrimônio material e imaterial desses povos.
O presidente afirmou ainda que o governo vai construir um novo plano de carreira para os funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai). “O maior interessado no plano de carreira é o presidente da Funai [Joênia Wapichana] porque ela sabe como as pessoas pagam mal. Queremos nos recuperar porque trabalhar na Funai é tão importante quanto trabalhar em qualquer secretaria”, disse Lula.
Yanomami
Ainda no Acampamento Terra Livre, o governo anunciou a liberação de R$ 12,3 milhões à Funai, para aquisição de insumos, ferramentas e equipamentos para as casas de farinha, recuperando a capacidade produtiva das comunidades indígenas Yanomami em Roraima.
A Terra Indígena (TI) Yanomami é a maior do país em extensão territorial e vem sofrendo com a invasão de garimpeiros. A contaminação da água por mercúrio usado na mineração e o desmatamento ilegal impactaram a segurança e a disponibilidade de alimentos nas comunidades. A situação gerou uma crise humanitária que levou centenas de crianças e idosos a morrer por desnutrição e causas evitáveis nos últimos quatro anos.
Desde janeiro, o governo federal trabalha para expulsar garimpeiros e apoiar os povos indígenas. Para Lula, a saúde indígena é prioridade. “Não podemos permitir que o que aconteceu com os Yanomami se repita, não pode acontecer com nenhum indígena”, afirmou.
“Nunca imaginei que existisse um governo que deixasse crianças e adultos chegarem a essas condições, que dificilmente conseguiriam tirar da fome, por falta de comida em um país que é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo. A verdade é que essas pessoas foram esquecidas, essas pessoas foram feitas reféns dos mineiros”, acrescentou o presidente.