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Major do GSI interagiu com golpistas por meia hora no dia 8 de janeiro próximo ao quarto de Lula

O major José Eduardo Natale de Paula Pereira, que era coordenador de segurança das dependências do Palácio do Planalto no dia das invasões golpistas de 8 de janeiro, foi visto em intervalo de meia hora interagindo com os manifestantes no plenário do gabinete presidencial.

Pereira aparece nas imagens da câmera do 3º andar do Planalto conversando e dando água para os vândalos. Em outros momentos, circula pelo telefone quando já haviam invadido salas do andar presidencial e até presencia um golpista roubando um extintor de incêndio.

Os militares ficavam sozinhos a maior parte do tempo. O sigilo das imagens foi derrubado na última sexta-feira (21) pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. O major estava no GSI desde 2020 e foi demitido no dia 3 de fevereiro, menos de um mês após os ataques golpistas.

A primeira vez que aparece perante as câmaras é quando entra numa sala às 15h58 e dá água aos manifestantes, a poucos metros da sala onde despacha o Chefe do Executivo.

Pereira passa em frente ao gabinete da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja, que já havia sido invadido por golpistas. Atrás dele, pelo menos sete vândalos seguem para uma área onde há banheiros.

O major também é visto andando pelos corredores do gabinete presidencial, ao telefone. Ele, mais uma vez, passa pelos manifestantes, mas não os tira de cena.

Em seguida, por volta das 16h28, é possível ver o major atravessando os corredores da ante-sala presidencial com golpistas, sinalizando para que saíssem pelas escadas.

Um deles tenta passar por ele para acessar outra área daquele andar, que era fechada por uma porta de vidro. O major chega a trocar empurrões com o golpista, mas não consegue impedi-lo de entrar no espaço reservado a assessores próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Pouco depois, o golpista volta ao mesmo local e se junta ao grupo que desce as escadas. Pereira então fecha a porta de vidro. No mesmo minuto, outro vândalo leva o segundo extintor (o primeiro já havia sido levado) na frente do major, que também não o detém.

Rapidamente, todos saem do local e o então ministro do GSI, general Gonçalves Dias, mais conhecido como GDias, aparece pela primeira vez no plenário da presidência.

Ele usa uma estrutura de metal e fita para barrar o acesso ao quarto andar pela escada e verifica se as portas do escritório de Lula estão fechadas.

Encontrando os manifestantes mais adiante no andar presidencial, o general aponta para que saiam do local, o que eles fazem. À CNN Brasil, após a emissora divulgar imagens dele dando água aos manifestantes, o major disse que agiu para “conter estragos”.

“Era para conter estragos, para evitar que as pessoas entrassem no gabinete do presidente, que seria a última linha”, disse. Segundo a reportagem, ele teria dito que ainda não havia feito prisões justamente por estar sozinho diante dos vândalos.

Os manifestantes circulam por pouco mais de uma hora na área mais restrita do andar presidencial, até serem totalmente retirados do local. Tudo aconteceu entre 15h20 e cerca de 16h31.

Bombas de choque e gás lacrimogêneo foram usados ​​contra os vândalos. O major Pereira aparece nas imagens das câmeras do subsolo acompanhado de outro funcionário do GSI e orientando a entrada do batalhão de choque da PM-DF, por volta das 17h, no Palácio do Planalto.

As imagens revelam pessoal de baixa segurança no dia da invasão.

Um integrante do GSI que portava uma arma (não é possível saber se é letal ou taser), e dois de escudo e capacete aparecem tensos nas imagens descendo as escadas do andar presidencial para o 2º andar, onde a maioria deles estava concentrada.

Outros integrantes do GSI e da polícia começam a aparecer mais na área restrita do andar presidencial por volta das 16h20.

Segundo funcionários do governo que acompanharam a operação naquele domingo, havia uma ordem inicial para que os vândalos deixassem o Planalto. Não se sabe, porém, de onde veio a ordem.

Quando o então ministro do GSI chega, ele manda o batalhão entrar no local, levar todos os golpistas para o 2º andar, de onde seriam presos.

A análise dos vídeos do Circuito Fechado do Planalto mostra que, além do baixo número de policiais, havia indícios de falta de comando e desorientação. Eles ficaram por mais de uma hora, pelo menos, sem reforços.

Parte das imagens foram divulgadas inicialmente pela CNN Brasil na semana passada. Os vídeos levaram à queda do GDias, a primeira renúncia do governo Lula 3. O general teve que prestar depoimento à PF na última sexta-feira, assim como todos os funcionários do GSI que aparecem nas imagens.

O general disse à polícia que houve um “apagão” geral do sistema de inteligência na crise de 8 de janeiro. Ele também disse não saber informar qual foi a classificação de risco dada pelas autoridades para o dia dos ataques.

“Indagado se o declarante entende se houve um apagão de inteligência, ele respondeu que acredita que houve um ‘apagão’ geral no sistema por falta de informações para a tomada de decisões”, diz o relato de seu depoimento. A declaração do general foi obtida pela Folha.

Apesar da atitude considerada pelos assessores de Lula como branda pelos integrantes do GSI que circularam no dia da invasão, o estopim para a queda do general foi o fato de ele não ter mostrado as imagens das câmeras da casa presidencial após os atentados , conforme exigido pelo agente.

Ele teria sido informado, por integrantes do GSI, que não havia imagens do local. Uma das câmeras, em frente ao escritório de Janja, por exemplo, ficou tapada por horas. Mas é possível ver a chegada de vândalos ao local.

MARIANNA HOLANDA, DANIELLE BRANT, THAÍSA OLIVEIRA, JULIA CHAIB, CÉZAR FEITOZA E RANIER BRAGON – FOLHAPRESS

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