No Brasil, cerca de 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma vacina DTP – Foto: Divulgação
O relatório Situação Mundial da Infância 2023: Vacinação para Todas as Crianças, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), divulgado oficialmente nesta quinta-feira (20), recomenda ações ao governo federal para que o Brasil retome a cobertura vacinal e aumente a confiança dos Brasileiros em imunizantes.
O documento foi divulgado em Brasília, em evento na sede da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas/OMS). O relatório mostra, na parte sobre o Brasil, que cerca de 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma vacina DTP, que previne difteria, tétano e coqueluche, entre 2019 e 2021. Para mudar esse cenário, o representante do Unicef no Brasil, Youssouf Abdel-Jelil, Brasil, listou quatro recomendações:
- Realização de busca ativa de crianças não vacinadas ou com esquema vacinal vencido;
- Fortalecimento do SUS, com investimento e valorização dos profissionais de saúde, em sua maioria mulheres;
- Priorização de financiamento para serviços de imunização e atenção primária à saúde com foco na infância;
- Ampliação das campanhas de comunicação voltadas para as famílias com crianças.
O representante do Unicef alertou que o relatório mostra que a percepção da importância das vacinas no Brasil diminuiu. Antes da pandemia, 99,1% dos brasileiros confiavam nas vacinas infantis e, no período pós-covid-19, são 88,8%. Para Youssouf Abdel-Jelil, porém, esse quadro é possível. “A população brasileira é uma das que mais confia nas vacinas, mas essa confiança caiu durante a pandemia e precisa ser retomada”. Lembrou até da história do Brasil, nas décadas anteriores. “O país sempre foi exemplo no Programa Nacional de Imunizações, o PNI, e possui um dos maiores sistemas de saúde do mundo, o Sistema Único de Saúde, o SUS, que precisa ser valorizado e fortalecido”, defendeu.
ações do governo brasileiro
Presente ao encontro, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, reforçou que a nova gestão da pasta está coordenando o Movimento Nacional de Vacinação para aumentar a cobertura vacinal, juntamente com estados e municípios. “Vamos visitar alguns municípios e estamos trabalhando para fortalecer a busca ativa, orientando os municípios para que, por meio de equipes [de Saúde da Família]agentes comunitários de saúde e agentes de vigilância podem fazer essa busca ativa e ver onde estão as crianças não vacinadas”.
Sobre o baixo reconhecimento da importância das vacinas e da ciência pelos brasileiros, Nísia defende a reversão desse quadro. “A memória do impacto do sarampo e da poliomielite parece ter se perdido. Como Akira Homma [cientista brasileiro] sempre diz ‘Somos vítimas do nosso sucesso’, mas não podemos nos contentar com esse diagnóstico. Temos elementos pela frente, como a busca ativa dessas crianças e outras estratégias que devem ser utilizadas.”
O ministro frisou que já estão a ser realizadas campanhas de mobilização para esclarecimento da população. “Neste momento, estamos focando na vacina contra influenza, com base na regularização que tivemos que fazer nos estoques de vacinas contra poliomielite, sarampo e outras vacinas usadas na infância, estamos preparando essas ações de campanha, a partir de maio. ”
Zé Gotinha e Mônica
Os personagens brasileiros Zé Gotinha, criado para campanhas de vacinação infantil, e Mônica, dos quadrinhos de Mauricio de Sousa, nomeado embaixador da Unicef no Brasil desde 2007, estiveram presentes na manhã de divulgação da reportagem.
No âmbito da expansão das campanhas de comunicação dirigidas às famílias com crianças, o representante da Unicef, Youssouf Abdel-Jelil, lembrou a força de Zé Gotinha. “Já me disseram que todos os brasileiros se lembram das campanhas com Zé Gotinha, anos atrás. E eu sei que ele está de volta ao trabalho no Brasil. Junto com a Ministra Nísia.”
nas Américas
No campo internacional, o Brasil participa da Semana de Vacinação das Américas, que será realizada de 24 a 30 de abril. “Queremos trocar experiências e ter voz firme e constante para que esse cenário seja revertido”, planejou a ministra Nísia.
Em sua fala no evento, a representante da OPAS no Brasil, Socorro Gross, apontou os desafios para aumentar a cobertura vacinal na região. E comemorou a adesão do ministério brasileiro à Semana de Vacinação das Américas, antes da celebração oficial dos demais países. “Estamos juntos para acompanhar toda a equipe nos estados e nos 5.570 municípios. Juntos nessa jornada, que é longa, mas é para levar saúde a todos, neste ano de recuperação”, destacou.