MPF processa Sindicato e deputado General Girão por incentivar atos antidemocráticos no RN

O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou ação contra o deputado federal Eliéser Girão (PL) e a União por danos morais coletivos por promover atos antidemocráticos em frente ao quartel do Rio Grande do Norte. O MPF aponta que os então comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, integrantes da União, divulgaram nota incentivando os acampamentos, e que o deputado fez repetidas postagens em suas redes sociais conspirando contra o Estado Democrático de Direito.
A União, o estado do Rio Grande do Norte e o município de Natal também foram acionados por descumprimento da democracia ao permitir a manutenção dos acampamentos. Na ação, o MPF argumenta que a conduta foi fundamental para os atos antidemocráticos ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro deste ano, e pede que o deputado e os três entes públicos sejam condenados ao pagamento de indenizações que, somadas, atingir R$ 5 milhões.
Mídia social
Segundo o MPF, o general Girão, nome pelo qual o deputado é conhecido, utilizou-se ativamente de suas redes sociais, em claro abuso à liberdade de expressão e à imunidade parlamentar, para incitar condutas que atentassem contra a ordem democrática, incluindo a continuidade do acampamento existente vez à frente do 16º Batalhão de Infantaria Motorizada em Natal.
“Em postagem feita um mês antes da invasão dos prédios do STF, do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto, o réu já instigava violência contra instituições, principalmente o Congresso”, enfatiza o MPF ao afirmar que Girão, como deputado federal e general da reserva do exército, foi um importante articulador e motivador de atos criminosos. “A vontade da ré de ver a realização de golpe de estado, como se sabe, consumiu quase um mês de tal postagem, havendo nexo de causalidade entre a conduta e o dano”.
Forças Armadas – De acordo com a ação, os comandantes das Forças Armadas à época, em nota, defenderam que a liberdade de expressão e reunião pode ser utilizada inclusive para incentivar a prática de crimes. “A emissão da nota demonstra politização inconstitucional das Forças Armadas e estimulou a manutenção de atos antidemocráticos e golpistas em frente aos quartéis a partir do desenvolvimento da narrativa de que as eleições foram fraudadas, promovendo a busca pelo colapso do regime democrático ordem”, sustentam os procuradores da República Victor Manoel Mariz, Emanuel De Melo Ferreira e Fernando Rocha de Andrade
“As pessoas reunidas nesses acampamentos defenderam o fechamento do Supremo Tribunal Federal e a necessidade de uma intervenção federal, realizada pelos militares, para que haja um verdadeiro golpe de Estado”, destacam os procuradores da República. “Foi uma reunião de uma associação antidemocrática, não protegida pela liberdade de expressão e reunião, incitando a animosidade entre as Forças Armadas e os poderes constituídos”.
Para o MPF, que pediu liminar para o Twitter, Facebook e Instagram retirarem do ar as postagens do general Girão, as manifestações de ódio à democracia não são amparadas pela liberdade de expressão, uma vez que infligem risco de dano real e iminente às instituições democráticas, especialmente no contexto das eleições. “É contra tal manobra autoritária que o Ministério Público Federal, em sua vocação constitucional a favor do regime democrático, protesta na presente ação”.