Feira Nacional da Reforma Agrária expõe a estreita relação do governo Lula com o movimento – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Paulo Teixeira, disse neste sábado que o governo está preparando um plano emergencial para voltar com os assentamentos a partir deste mês. “Haverá novos assentamentos em áreas que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) já possui”, afirmou, em São Paulo, durante a Feira Nacional da Reforma Agrária, organizada pelo Movimento dos Sem Terra (MST). Segundo Teixeira, serão disponibilizados créditos para a instalação desses assentamentos, além de assistência técnica para o início da produção nos locais.
Pressionado pelo movimento – que, no terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, retomou as invasões de propriedades, incluindo produtivas e de uma área da Embrapa –, o governo federal tenta responder às reivindicações dos sem-terra e às críticas à lentidão do processo de reforma. agrário. As ações do MST geraram fortes reações de entidades ligadas ao agronegócio.
No mês passado, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) entrou com um pedido de liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir invasões de propriedades em todo o país. Setores do segmento consideram o governo Lula conivente com atos do MST.
A Feira Nacional da Reforma Agrária expõe a estreita relação do governo Lula com o movimento. Os ministros e o vice-presidente Geraldo Alckmin – que esteve presente ontem – viraram as estrelas do evento no Parque da Água Branca, na zona oeste de São Paulo.
Desde o início deste ano, além de intensificar as invasões de terras e pressionar o governo a liberar mais recursos para a reforma agrária, o MST tem organizado ações para nomear aliados nas superintendências do Incra. O movimento também garantiu presença no chamado Conselho de Lula.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tornou-se o garoto-propaganda de uma marca de fubá. “Tenho orgulho de ter participado da campanha publicitária desses produtos”, disse ele, que não compareceu ao evento, mas, em uma rede social, elogiou as peças confeccionadas pelos sem-terra. Anteontem, indicado de Lula para assumir a Diretoria de Política Monetária do Banco Central, o secretário-executivo, Gabriel Galípolo, já havia visitado o evento.
‘RASGOU A PONTE’
A presença dos ministros de Alckmin e Lula na feira do MST incomodou integrantes da bancada ruralista no Congresso, aumentando a insatisfação da bancada com o governo do PT. O Palácio do Planalto está tentando acertar o diálogo, mas o acontecimento irritou parlamentares ligados ao agronegócio.
“É a fotografia que precisávamos para comprovar o envolvimento do governo com o MST nessas invasões de terras”, disse o deputado Evair de Melo (PP-ES), segundo vice-presidente da Frente Parlamentar da Agricultura da Câmara, ao comentar a declaração do vice-presidente viagem à feira. “O governo puxou a ponte com o agro e não tem mais diálogo”, disse.
Questionado ontem sobre a CPI do MST, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o trabalho do Legislativo não é de “polícia”. “Sou muito cauteloso com essa história de CPI. O trabalho do Legislativo é legislativo (fazendo leis), não policial. Já existem muitos órgãos fiscalizadores.”
Membros da oposição, incluindo parlamentares da bancada ruralista, prometem apontar à comissão a responsabilidade do governo pelos atos ilícitos do MST.
Na terça-feira, Alckmin estará em almoço do grupo ruralista em Brasília. “O governo está dando sinais contraditórios e tem vivido uma certa esquizofrenia com a agricultura”, disse o deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente da Frente Agrícola.
Isabella Alonso Panho, Gustavo Queiroz, Aramis Merki II e Daniel Weterman – Estadão Conteúdo