Os problemas crônicos de escassez de água enfrentados pelo Rio Grande do Norte devem terminar nesta década. Uma série de obras e projetos estruturantes que estão em andamento no território potiguar vão acabar com a falta de água, acabando de vez com o sofrimento de milhares de potiguares e acabando com um problema que se arrasta há séculos e interfere diretamente na vida da população e na economia do estado.
A previsão é do secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do RN (Semarh), Paulo Varella, que recebeu o Agora RN e detalhou os principais programas e obras que estão sendo realizados no Estado. Ele prevê que essas ações devem deixar o Estado livre de problemas de abastecimento humano até 2030.
Uma das obras em andamento é o Complexo Oiticica, um projeto de R$ 750 milhões que está 93,7% concluído. Esse projeto foi incluído pela governadora Fátima Bezerra (PT) no pacote de obras prioritárias apresentado pelo Executivo ao Governo Federal em janeiro deste ano. Na última terça-feira, dia 4, o Governo do RN recebeu a garantia de liberação de recursos no valor de R$ 19 milhões para a conclusão da obra.
Segundo o secretário Paulo Varella, serão necessários R$ 150 milhões para a conclusão dessa obra, que tem previsão de entrega em dezembro de 2023. Atualmente, a Barragem de Oiticica está 93,27% concluída, com previsão de conclusão para dezembro deste ano.
“Eu digo que somos a civilização das barragens, temos um grande potencial na bacia Potiguar, é uma das grandes fronteiras hidroagrícolas do mundo. A Oiticica, trabalhando junto com a Barragem Armando Ribeiro Gonçalves e com as águas do São Francisco, vai garantir o abastecimento, trazer água para o nosso território”, explica o secretário da Semarh.
PROJETO SERIDÓ. Outro projeto que visa ajudar a resolver os problemas hídricos do Rio Grande do Norte é o Projeto Seridó, um conjunto de adutoras que, quando concluído, levará água para cerca de 300 mil pessoas em 22 municípios do Rio Grande do Norte. As obras vão interligar todas as cidades da região, garantindo água de qualidade para toda a população.
“Isso vai dar 100% de garantia, isso é raríssimo em qualquer esquina, agora no semiárido vai ser um belo exemplo e mostra integração e planejamento correto. Por exemplo, se você trouxer uma gota d’água do rio São Francisco, ela chegará em um determinado ponto a Oiticica, depois a represa Armando Ribeiro Gonçalves, e por fim vai parar na casa das pessoas. Então isso mostra um trabalho integrado”, acrescenta Varella.
As obras do Projeto Seridó são executadas pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf), empresa pública vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). Em outubro do ano passado, ainda no governo Jair Bolsonaro (PL), foi anunciado um investimento de R$ 600 milhões nessa obra, iniciada pela prefeitura de Jucurutu. Até agora, R$ 81 milhões foram comprometidos com a execução dos serviços.
As ações consistem em um conjunto de seis sistemas adutores divididos em dois eixos. Juntos somam mais de 300 km de dutos. A entrega da parte norte da obra está prevista para 2025. No entanto, o Governo do Estado está tentando, junto com o Governo Federal, antecipar esse prazo para 2024. Em relação à outra etapa dessa obra, o projeto executivo já está sendo finalizado pelo MDR para que a licitação seja lançada em breve.
“Como isso pode se traduzir materialmente em uma vantagem para as pessoas? Bom, primeiro a garantia de abastecimento humano, que não é pouco; depois, quando essas obras começarem a abastecer as cidades, também serão liberadas aquelas barragens que antes serviam para abastecer as cidades, então essas barragens seriam liberadas para a produção local”, prevê o secretário.
Diante dessa nova realidade, Paulo Varella prevê que novas economias possam ser desenvolvidas a partir dessas barragens que estarão disponíveis nas cidades. Ele cita como exemplos as possibilidades de desenvolvimento da piscicultura, do turismo e da agricultura irrigada.
“Isso pode transformar o RN, digo que podemos ter nossa Califórnia aqui. Claro que isso vai exigir projetos, que estamos tentando construir, para elaborar a partir de agora, e isso requer muita interação com o setor privado. Mas tudo isso é possível, desde que planejemos bem, realmente transformamos esse elefante em um dragão”, declara o chefe da Semarh.
Ainda no Seridó, o secretário destacou a importância das obras de recuperação da barragem Passagem das Traíras, que estão sendo executadas pelo Governo Federal. Esta barragem tem capacidade para armazenar até 50 milhões de metros cúbicos de água. A previsão é que a obra seja entregue toda recuperada em junho deste ano.
Projeto de Integração do Rio São Francisco
O Projeto de Integração do Rio São Francisco levará água para 12 milhões de pessoas nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. O estado do Rio Grande do Norte é o destino do eixo Norte, que no RN possui duas ramificações: Apodi e Piranhas-Açu.
As águas do São Francisco entrarão no Rio Grande do Norte pelo município de Jardim de Piranhas e continuarão abastecendo a represa Oiticica, em Jucurutu, desaguando na represa Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu.
Segundo Paulo Varella, o ramal Piranhas-Açu já pode ser utilizado, mas ainda faltam obras complementares, como a colocação de medidores. Por outro lado, a filial do Apodi recebeu, na última terça-feira, dia 4, um aporte de recursos da ordem de R$ 43 milhões para a continuidade da obra. Segundo o governo, o prazo de entrega foi antecipado e a chegada da água ao RN está prevista para 2025.
“A partir de 2025, com a chegada dessa água, eu diria que até o final desta década, em 2030, estaremos resolvendo definitivamente o problema de abastecimento, seja na região do Seridó, seja na região do Alto Oeste”, prevê.
O secretário explica ainda que as águas do São Francisco só serão utilizadas pelo Rio Grande do Norte quando necessário. Na situação atual, por exemplo, ele diz que “não faria sentido” trazer água do São Francisco, já que as chuvas estão conseguindo manter as barragens cheias. Porém, ao final do período de inverno, em caso de necessidade, a transposição será acionada para abastecer as cidades.
“Prevejo que no final da década teremos 100% de garantia de abastecimento humano, o que é difícil em qualquer região, muito menos no semiárido. Essa é uma expectativa de horizonte, não é uma data que estou falando, porque obviamente isso vai depender de muitas questões, da nossa capacidade de conseguir realizar todos esses trabalhos complementares”, observa.
Desenvolvimento Econômico do RN
Paulo Varella, que foi secretário de recursos hídricos do ex-governador Garibaldi Alves (MDB), conhecido como o “governador das águas”, ajudou o emedebista a realizar uma série de obras de infraestrutura hídrica responsáveis por levar água a milhares de pessoas no interior do estado do Rio Grande do Norte. RN. Ele afirma que hoje a sensação é a mesma de antigamente, mas em circunstâncias completamente diferentes.
O secretário aponta a necessidade de uma articulação entre esse novo momento que o RN está prestes a viver – com água em abundância para toda a população – e a questão do desenvolvimento econômico.
“Qualquer área que você imaginar, qualquer dimensão humana que tenha desenvolvimento precisa de água, seja indústria, comércio, agricultura. Numa região semiárida onde o clima por um lado é hostil, mas por outro tem grandes vantagens comparativas, a chegada dessas águas nos faz pensar agora em outro momento. O que fazer para trazer desenvolvimento?” reflete o secretário.
Ele alerta que é preciso garantir que essa água não só sacie a sede da população, mas também gere riqueza. Ele prevê que essa nova realidade hídrica no Rio Grande do Norte pode provocar uma transformação econômica no Estado.
“Esse é o grande desafio, estamos visitando as regiões, nos inspirando em um plano e precisamos ter esses projetos. Este é o momento de conseguir recursos para que possamos começar a desenvolver projetos para que, na medida em que essa água chegar e nós conseguirmos recursos, eles possam ser concretizados”, finaliza.