Onda verde reduz consumo de carne vermelha na Alemanha

“Uma possível razão para o declínio no consumo de carne pode ser a tendência contínua de uma dieta baseada em vegetais”. Essa é uma das justificativas do Centro Federal de Informações Agrícolas (BZL) da Alemanha para a queda do consumo de carne no país, que ocorre regularmente há três anos.
O BZL acaba de divulgar os dados de 2022, quando os alemães engoliram em média cerca de 52 quilos de carne por pessoa, uma queda de 4,2 quilos em relação ao ano anterior. É o nível mais baixo desde pelo menos a reunificação das duas Alemanhas, em 1989, quando começaram esses cálculos de consumo.
Para Tanja Dräger, especialista do think tank alemão Agora Agriculture entrevistada pelo relatório, “os padrões de bem-estar animal na produção pecuária e o impacto climático do consumo de carne têm sido objeto de um debate público ativo por mais de dez anos na Alemanha”.
“Como a nutrição é responsável por até 25% das emissões de gases de efeito estufa de uma pessoa na Alemanha e a carne é o principal fator [nessa equação]mudar a base das dietas para vegetais é uma contribuição importante para alcançar nossos objetivos climáticos”.
Dados da Agora indicam que, em 2021, cerca de 10% dos alemães seguiram uma dieta vegetariana, e 2%, vegana. Uma parcela crescente da população se descreve como flexitariana, comendo carne apenas ocasionalmente.
Consumir menos carne e mais vegetais é uma tendência impulsionada pelos hábitos alimentares da geração mais jovem. Em comparação com a população em geral, na faixa etária de 15 a 29 anos há o dobro de pessoas que seguem uma dieta vegetariana ou vegana.
Além disso, o mercado de proteínas vegetais está crescendo e cresceu 42% desde 2020. Em comparação com o resto da Europa, a Alemanha é de longe o maior mercado de alimentos vegetais, seguida pelo Reino Unido, Itália, Espanha e França.
A tendência de queda não está acontecendo apenas em território germânico. Dados do site alemão Statista mostram que, nos últimos três anos, o consumo de carne está caindo em oito dos nove países tabulados: além da Alemanha e do Reino Unido, há Espanha, Itália, Holanda, Finlândia, Polônia e França. Apenas a República Tcheca não apresentou queda, mas o mesmo número. No Reino Unido, o declínio ocorre desde 2008.
A média de 52 quilos por alemão divulgada pelo BZL inclui carne bovina, suína e de frango, dividida da seguinte forma: cerca de 9 quilos de carne bovina, 13 de frango e 29 de carne suína. Analisando as estatísticas, observa-se que os alemães vêm reduzindo o uso de carne bovina e suína e aumentando o uso de frango.
“A carne de frango tem uma imagem saudável. No entanto, para atingir nossas metas climáticas, nossas dietas futuras precisarão ser cada vez mais baseadas em vegetais. Estruturas políticas robustas são necessárias para apoiar essa mudança”, afirma Dräger.
Para o especialista, um dos motivos para a troca da carne vermelha pela branca pode ter raízes nas recomendações da Sociedade Alemã de Nutrição (DGE). Em publicação recente, a agência apontou que o alto consumo de carne vermelha e processada pode causar certas doenças relacionadas à alimentação, como o câncer de intestino. Por outro lado, segundo o instituto, não há riscos acrescidos associados às carnes brancas, como frango ou peru.
Segundo o BZL, face a 2021, “as pessoas comeram em 2022 cerca de 2,8 quilos a menos de carne de porco, menos 900 gramas de carne de bovino e menos 400 gramas de aves”.
Da mesma forma que o consumo, a produção do setor também caiu na Alemanha. Em relação ao ano anterior, foram 9,8% menos suínos, 8,2% menos bovinos e 3% menos frango produzidos internamente.
Com uma inflação de 7,9% no ano passado, cabe pensar se o aumento do custo de vida não se reflete também nesse contexto. “Existem evidências empíricas limitadas, no entanto, nossa avaliação é que a inflação desempenhou um papel na diminuição do consumo de carne”, confirma Dräger.
“Os preços da carne aumentaram cerca de 15%, enquanto os preços dos produtos vegetais permaneceram relativamente estáveis. Para fornecer incentivos para uma dieta saudável e ecológica, os alimentos à base de plantas precisam ter privilégios fiscais no futuro”.
Embora os alemães, famosos mundialmente por suas linguiças, comam mais carne de porco do que nós comparativamente, o consumo geral é muito menor lá do que no Brasil. No ano passado, os brasileiros comeram 80 quilos de carne, 24 quilos de carne bovina, 37 de frango e 19 de porco.
IVAN FINOTTI – MADRID, ESPANHA (FOLHAPRESS)