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A Petrobras iniciou neste mês uma nova política para empregados com deficiência que poderão aderir ao trabalho remoto em tempo integral durante cinco dias por semana. De casa, esse grupo de pessoas pode evitar o deslocamento até a empresa e utilizar tecnologias de acessibilidade, de forma a fortalecer a inclusão na rotina profissional.

Cecília de Pádua, 55, trabalha na área de comunicação da empresa há 19 anos. Na pandemia, com a transferência para o regime remoto, descobriu possibilidades de home office que facilitaram seu dia a dia. Recursos como legendagem e transcrição de áudio em reuniões online otimizam o trabalho de pessoas que, como Cecília, têm deficiência auditiva.

“Pretendo adotar o regime full remote pelo conforto acústico que ele vai me oferecer durante a jornada de trabalho. O trabalho remoto vai otimizar meu desempenho da mesma forma que otimizou a maioria dos funcionários durante a pandemia”, afirma.

A iniciativa da Petrobras, ainda em fase piloto, considerou os resultados do home office durante o período de isolamento e foi baseada em estudos sobre as demandas dos empregados com deficiência. Liderado pelos setores de recursos humanos e saúde, o projeto contou com o apoio de outros grupos, incluindo sindicatos e pessoas com diferentes deficiências

A opção pelo regime remoto é voluntária, podendo o profissional que aderir à proposta retornar ao modelo híbrido ou presencial quando preferir.

Hoje, a Petrobras conta com 338 empregados com deficiência, a maioria trabalhando em regime administrativo de 40 horas semanais. Do total, cerca de 58% já solicitaram a mudança para trabalhar de casa todos os dias da semana.

Nas plataformas, são 30 trabalhadores com algum tipo de demanda física ou sensorial que, segundo a empresa, poderão optar pelo modelo remoto full-time. Nesse caso, devem negociar novas condições de trabalho com os gestores para deixar as plataformas e trabalhar em atividades em regime administrativo.

A Petrobras diz que as ferramentas utilizadas no trabalho remoto facilitaram a inclusão desses trabalhadores. Além da tecnologia de transcrição utilizada por Cecília, as pessoas com deficiência auditiva afirmam ter mais facilidade na leitura labial online, e as pessoas com deficiência visual utilizam recursos como softwares de leitura de texto.

Profissional de recursos humanos da petroleira há quatro anos, Tielli Fiorini, 38, também avalia positivamente a possibilidade de trabalhar em casa. Para ela, que tem deficiência auditiva, o trabalho remoto possibilitou uma melhora na comunicação, que passou a ser feita principalmente por mensagens e e-mails.

Publicada em 2022, uma pesquisa da Work Foundation, associada à Universidade de Lancaster (Inglaterra), mostrou que 80% dos profissionais com deficiência consideram a possibilidade de trabalhar em casa um fator essencial na busca por um novo emprego.
A maioria dos trabalhadores com deficiência não deseja retornar aos padrões pré-pandêmicos de trabalho presencial, de acordo com o relatório.

Cerca de 66% preferem trabalhar remotamente quatro a cinco dias por semana.

Além de eliminar as dificuldades da jornada, o home office permite que o funcionário com deficiência tenha mais autonomia. Entre as vantagens apontadas na pesquisa estão a liberdade de adequar o espaço físico onde trabalham para torná-lo mais confortável e a privacidade para cuidar da saúde.

Para Carolina Ignarra, diretora da consultoria de diversidade Talento Importar, a medida é importante porque foi tomada com a participação de pessoas com deficiência. Por outro lado, ela afirma que é preciso monitorar os trabalhadores para garantir que eles estão se beneficiando da medida.

“É preciso pensar no cuidado para além das flexibilidades, como capacitar as pessoas com deficiência, principalmente aquelas que estão iniciando a carreira ou em cargos operacionais, conversando sobre como equilibrar oportunidades e ambição profissional”, diz.

Na Petrobras, o setor de recursos humanos realizou palestras sobre o tema e pretende monitorar quem está trabalhando remotamente.

Ignarra também alerta para o networking, que ajuda no crescimento profissional e pode ser prejudicado no home office, já que a interação com os colegas costuma ser menor.

Para a funcionária Cecília de Pádua, trabalhar em casa não altera sua relação com os demais profissionais, que trabalham em regime híbrido. “Não há risco de estereotipar funcionários com deficiência por causa do home office completo. Prova disso é que, em nosso portal interno, choveram elogios de colegas sem deficiência sobre a aprovação da medida”, diz Cecília.

A Petrobras diz que o teletrabalho em tempo integral é uma das medidas para aumentar a inclusão. Outra proposta foi o plano de Melhoria da Acessibilidade, que implementou ações para fomentar a diversidade, como adequação de espaços físicos e promoção de campanhas de conscientização.

A empresa aumentou, de 5% -exigência legal- para 8%, a reserva de vagas para pessoas com deficiência em concursos públicos.