O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, entregaram o Prêmio Camões, principal premiação da literatura em língua portuguesa, ao músico, dramaturgo e escritor brasileiro Chico Buarque. A cerimónia decorreu na segunda-feira, dia 24, no Palácio de Queluz, em Lisboa.
“Por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que publique romances e contos, por mais que receba prêmios literários, gosto de ser reconhecido no Brasil como compositor popular, e em Portugal como sujeito. [moço] que um dia pediu para mandarem cravo e cheiro de alecrim”, disse Chico Buarque, referindo-se à música que escreveu, Tanto Mar.
Em seu discurso, Lula destacou que, em suas obras, Chico Buarque conseguiu transformar o cotidiano das pessoas em extraordinária poesia. “Chico conseguiu sintetizar as paixões e desejos de tantas Joanas e Joãos, de tantas Teresas e Josés Costas, de tantos Genis e Pedros pedreiros, de tantos moleques e mambembes do nosso povo”, disse.
“Mas a vasta contribuição da obra de Chico Buarque vai além de suas inegáveis contribuições à riqueza literária da língua portuguesa e mostra que a arte e a cultura se confundem com a política e com nossos ideais de liberdade e democracia”, acrescentou o presidente.
Em 2019, Chico Buarque foi o vencedor da 31ª edição do Prêmio Luiz Vaz de Camões de Literatura, mas o ato de entrega não foi assinado pelo então presidente Jair Bolsonaro. “É um prazer corrigir um dos maiores absurdos cometidos contra a cultura brasileira nos últimos tempos”, disse Lula.
“O ataque à cultura, em todas as suas formas, foi uma dimensão importante do projeto que a extrema direita tentou implementar no Brasil. Não podemos esquecer que o obscurantismo e a negação das artes também foram uma marca do totalitarismo e das ditaduras que censuraram o próprio Chico no Brasil e em Portugal”, acrescentou o presidente.
Em seu discurso, Chico relembrou os muitos autores e artistas brasileiros “humilhados e ofendidos nestes últimos anos de estupidez e obscurantismo”.
“Conforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara delicadeza de não sujar meu diploma do Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula”, disse.
“Faz quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se teriam me esquecido”, brincou o escritor. “Quatro anos, com uma pandemia no meio, às vezes davam a impressão de que havia passado muito mais tempo. Para o meu país, quatro anos de governo, desastrosos, duraram uma eternidade, porque era uma época em que o tempo parecia andar para trás”, disse Chico Buarque.
O Prêmio Camões foi instituído em 1988 por Brasil e Portugal e reconhece anualmente autores cuja obra contribui para a projeção e enriquecimento do patrimônio literário e cultural da língua portuguesa. É realizado e financiado pela Biblioteca Nacional do Brasil e pela Secretaria de Cultura de Portugal e conta com um seleto grupo de jurados brasileiros, portugueses e africanos.
O prêmio foi concedido a Chico Buarque levando em consideração sua produção literária como um todo. Por ele, o artista receberá 100 mil euros.
“Chico transformou os amores de nossos povos, as alegrias de nossos carnavais, as belezas de nossos fados e sambas, as lutas obstinadas de nossos cidadãos pela conquista da liberdade e da democracia em um patrimônio literário comum. Em seu cancioneiro, em suas peças teatrais e em seus romances, o autor hoje homenageado não deixou de fazer da língua portuguesa um instrumento de transmissão de nossas culturas e de nossas lutas”, disse o presidente Lula.
Chico Buarque de Hollanda estreou como ficcionista em 1974, com a novela Fazenda Modelo. Em 1979, publicou o livro infantil Chapeuzinho Amarelo. O primeiro romance, Estorvo, foi lançado em 1991. Quatro anos depois, lançou o segundo, Benjamin. Em 2003 publica Budapeste; em 2009, Leite Spilled, e em 2014, Irmão Alemão. Também escreveu as peças Roda Viva (1968); Calabar (1972); Gota D’Água (1974) e Ópera do Malandro (1978).
O autor foi o 13º brasileiro a receber o prêmio, que já foi concedido, entre outros, a Raduan Nassar (2016), Ferreira Goulart (2010), Lygia Fagundes Telles (2005) e Jorge Amado (1994). Depois de Chico Buarque, em 2022, o ensaísta, poeta, professor, contista e romancista brasileiro Silviano Santiago também foi agraciado com o prêmio.
Visita
O presidente Lula está em visita oficial a Portugal desde sexta-feira (21). Nesta segunda-feira, mais cedo, ele participou de uma reunião com empresários. Após a entrega do Prêmio Camões, o presidente participa de recepção na residência oficial do Brasil, em Lisboa.
Na terça-feira, dia 25, Lula será homenageado em sessão solene da Assembleia da República Portuguesa. Depois, a comitiva brasileira segue para Madri, capital da Espanha, onde também faz visita oficial, com eventos até quarta-feira, dia 26.