Um dia depois de ser alvo de um mandado de prisão por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), o presidente russo, Vladimir Putin, fez uma visita surpresa a Mariupol, a cidade ucraniana ocupada pelas forças de Moscou e local de algumas das cenas mais devastadoras desta guerra.
Putin chegou de helicóptero neste sábado (18) após passar pela Crimeia, no 9º aniversário da anexação da península ucraniana ao Mar Negro. O presidente visitou a cidade em seu próprio veículo, disse o Kremlin. Segundo imagens transmitidas pela televisão estatal russa, a viagem ocorreu à noite.
A emissora mostrou Putin conversando com moradores deslocados em um novo bairro residencial construído pelos militares russos enquanto era informado sobre os esforços de reconstrução pelo vice-primeiro-ministro Marat Khusnullin.
“Você mora aqui? Você gosta?” ela perguntou a um dos novos residentes. “Muito. É um pedacinho do céu que temos aqui”, respondeu a mulher, juntando as mãos e agradecendo a Putin pela “vitória”.
Mariupol fica na região de Donetsk, uma das quatro regiões da Ucrânia amplamente ocupadas pela Rússia que Putin anexou em uma ação considerada ilegal pela maioria dos países na Assembleia Geral das Nações Unidas.
A cidade portuária ficou conhecida mundialmente após ter sido parcialmente reduzida a ruínas nos primeiros meses da guerra, antes que as tropas russas assumissem o controle da cidade. Em março do ano passado, centenas de pessoas foram mortas no bombardeio de um teatro onde se abrigavam famílias com crianças. Moscou diz que desde a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro do ano passado, não tentou atingir civis.
Putin também visitou a orquestra filarmônica local, que acaba de ser recriada, e recebeu um relatório sobre o trabalho de reconstrução em Mariupol, disse o serviço de imprensa do Kremlin.
“O criminoso sempre volta à cena do crime”, disse o conselheiro presidencial ucraniano Mikhailo Podoliak no Twitter. “O assassino de milhares de famílias de Mariupol veio admirar as ruínas da cidade e seus túmulos. Cinismo e falta de remorso.”
A prefeitura da cidade também se pronunciou. “O criminoso internacional Putin visitou Mariupol ocupada à noite, provavelmente para não ver, à luz do dia, a cidade assassinada para sua ‘libertação’”, disse a organização via Telegram.
A visita de Putin soou como um desafio após o mandado de prisão expedido pelo TPI contra o líder na sexta-feira (17) – Kiev afirma que mais de 16 mil crianças ucranianas foram deportadas para a Rússia desde o início do conflito.
O presidente ainda não se pronunciou publicamente sobre a iniciativa. Seu porta-voz, no entanto, disse que a decisão era legalmente “nula e sem efeito” e que a Rússia considerou as questões levantadas pelo TPI “ultrajantes e inaceitáveis”.
Foi a primeira vez que o Tribunal de Haia emitiu um mandado de prisão contra um líder de um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
A visita foi a primeira que Putin fez às áreas ocupadas pelos russos de Donbass, na Ucrânia, desde o início da guerra, e a mais próxima que ele chegou das linhas de frente – uma estratégia que está em desacordo com a do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que faz viagens frequentes ao campo de batalha.
De Mariupol, Putin foi para Rostov, no sul da Rússia, onde se encontrou com o comandante da guerra na Ucrânia, Valery Gerasimov.
Nesta segunda-feira (20), o líder chinês, Xi Jinping, chegará à Rússia para uma visita em que serão assinados acordos que marcarão, segundo o Kremlin, o início de uma “nova era” nas relações entre os dois países aliados. .
O Ocidente espera que Xi use sua visita a Moscou para instar Putin a encerrar o conflito – a ofensiva russa isolou amplamente Moscou internacionalmente. Até agora, porém, a China não condenou a invasão e tentou se apresentar como um jogador neutro na disputa, posição criticada por líderes ocidentais.
Folhapress