O ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), deixa o cargo hoje (11), após antecipar em um mês sua aposentadoria. Ele completa 75 anos no dia 11 de maio, data em que seria aposentado compulsoriamente.
Lewandowski sai do gabinete com um acervo de 780 processos, que deve ser herdado por seu sucessor. A partir desta terça-feira (11), caberá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicar um novo nome para a cadeira do ministro. Ao anunciar sua aposentadoria, o ministro disse que não havia indicado Lula.
Não há prazo para a nova nomeação. Lula parte nesta terça para a China, de onde volta no próximo domingo (16). Em café da manhã com jornalistas no início do mês, o presidente disse que “não tem pressa” em fazer a indicação. “A escolha de seu substituto [Lewandowski] será feito por mim no momento que achar que devo fazer”, disse.
Até o momento, o único nome citado publicamente por Lula foi o do advogado Cristiano Zanin, que o defendeu nos processos da Operação Lava Jato. Nas últimas semanas, intensificaram-se as pressões e campanhas de outras empresas listadas, principalmente de uma mulher, de preferência negra. Lula, porém, tem se recusado a assumir qualquer compromisso em relação ao perfil do indicado.
Antes de assumir o cargo, o candidato do presidente deve ser questionado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ) e depois aprovado por maioria absoluta (41 votos) no plenário da Casa.
Carreira
Com a saída do STF, Lewandowski deve voltar à advocacia e focar na carreira acadêmica, como disse a jornalistas. Formou-se pela Universidade de São Paulo (USP), mesma instituição onde se tornou mestre e doutor e onde leciona desde 1978.
Sua passagem pelo Supremo Tribunal Federal, onde chegou em 2006 por sugestão do próprio Lula, foi marcada pelo chamado garantismo, tendência que tende a dar maior peso aos direitos e garantias dos réus nos processos.
Votou, por exemplo, no julgamento do mensalão, do qual foi revisor, pela absolvição dos ex-ministros de Estado José Dirceu e José Genoíno, na qual foi derrotado. Na época, ele chamou a denúncia contra os dois de “vaga”, já que seriam baseadas principalmente em depoimentos.
O julgamento do mensalão gerou discussões acaloradas no plenário, com o relator da ação penal e então presidente do STF, Joaquim Barbosa, chegando a acusar Lewandowski de “chicana” por querer adiar um dos plenários . O ministro exigiu a retratação imediata do colega, e a confusão levou à suspensão da análise do caso.
Lewandowski foi o primeiro ministro do Supremo a apontar desvios nas ações da Lava Jato e, posteriormente, tornou-se relator da chamada “Vaza Jato”, caso que revelou trocas de mensagens entre o juiz Sergio Moro e os procuradores responsáveis pela Lava Jato. As conversas levaram posteriormente à anulação da condenação de Lula no caso, bem como à suspensão das ações relativas a vários outros réus.
O ministro suspendeu pessoalmente vários processos da operação, o mais recente em meados de março, quando ordenou a paralisação de uma ação com base em informações repassadas pela Odebrecht, prova que depois foi considerada inútil pelo Supremo Tribunal Federal. Entre os beneficiados estavam o ex-ministro e ex-senador Edson Lobão, o advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhava na empreiteira, e o vice-almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, ex-presidente da Eletronuclar.
decisões importantes
Outras decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) foram associadas ao nome de Lewandowski, por ter sido relator das matérias na Corte. Ele foi responsável, por exemplo, por habeas corpus acordo coletivo para conceder prisão domiciliar a milhares de presidiárias grávidas ou mães de crianças de até 12 anos. A decisão foi posteriormente confirmada pela Segunda Turma do STF.
Ele também foi relator da ação em que o Supremo Tribunal Federal decidiu, por unanimidade, que as cotas para candidatos negros em universidades públicas eram constitucionais. Por conta dessa decisão, o ministro da Educação, Camilo Santana, agendou uma homenagem a Lewandowski para esta manhã, na sede do ministério.
Mais recentemente, durante a pandemia de covid-19, Lewandowski foi relator de uma ação no STF na qual mandava o governo acelerar e apresentar um plano para vacinar a população contra a doença, com cronogramas para aquisição e distribuição de imunizantes. . A liminar seria então confirmada por unanimidade no plenário.
Presidências
O ministro presidiu o Supremo Tribunal Federal entre 2014 e 2016, ano em que também presidiu o impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, entre maio e agosto, no Senado, conforme previsto na Constituição.
Uma de suas decisões na época foi permitir o voto dividido, com os parlamentares decidindo primeiro sobre o afastamento do deputado e só depois sobre as sanções que seriam impostas. Com isso, ela acabou não ficando inelegível após deixar o cargo.
Também foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entre 2010 e 2012. No cargo, esteve à frente da aplicação da Lei da Ficha Limpa, aprovada em 2010. Como presidente do Conselho Nacional de Justiça ( CNJ), assinou a adoção nacional das audiências de custódia – nas quais qualquer preso deve ser levado à Justiça em até 24 horas.