Sem Zelensky, agenda de Lula no G7 priorizou África, Índia e combate à fome

O frustrado encontro com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, dominou os noticiários da visita de Lula a Hiroshima durante a cúpula do G7. Mas o governo brasileiro tinha planos além de discutir a Guerra da Ucrânia: reaproximação com os países africanos, acordo de combate à fome e retomada do protagonismo da agenda verde.
O presidente brasileiro concederá entrevista coletiva às 20h deste domingo (21) (8h de segunda-feira no Japão). Na ocasião, deve ser feita uma avaliação da participação brasileira no G7. Veja abaixo os destaques da participação de Lula no G7.
FORTALECENDO OS LIGAÇÕES COM A ÁFRICA
Lula endossou o apoio brasileiro à inclusão da União Africana no G20. A organização compreende 54 países membros. O assunto foi abordado este domingo durante um encontro com o presidente das Comores, Azali Assoumani, que também dirige a União Africana.
Os dois chefes de Estado também falaram sobre o aumento das relações comerciais e dos investimentos. Uma das possibilidades é a utilização de bancos de desenvolvimento. O presidente das Comores declarou que cabe ao Brasil liderar os países em desenvolvimento.
No Twitter, Lula afirmou que está trabalhando para restabelecer as relações com a África. Ele declarou que o continente estava rebaixado durante a visita de Jair Bolsonaro ao Planalto.
BRASIL E ÍNDIA
Brasil e Índia foram fortemente pressionados pelas potências ocidentais a deixar a neutralidade e se alinhar com a Ucrânia na guerra que o país trava com a Rússia. O tema foi discutido pelos dois países em encontro bilateral entre Lula e Narendra Modi.
A solução retórica da dupla para responder ao assédio ocidental foi dizer que não há neutralidade e que Brasil e Índia estão do lado da paz. Ao comentar o encontro, Lula declarou que quer retomar a parceria estratégica existente entre os dois países.
PARCERIA CONTRA A FOME
Durante o G7, os líderes de 15 países assinaram um acordo para erradicar a fome no planeta. O compromisso prevê o fornecimento de alimentos nutritivos e baratos produzidos a partir de uma cadeia agrícola sustentável.
A iniciativa é uma resposta ao cenário global negativo. A pandemia deixou as pessoas mais pobres em um momento de mudança climática e o aumento dos preços de energia e fertilizantes elevam o custo dos alimentos.
O objetivo de médio prazo é preparar os países para responder rapidamente à escassez de alimentos. A longo prazo, a intenção é alcançar a segurança alimentar de forma sustentável.
BRASIL QUER PROTAGONISMO NA AGENDA VERDE
Na série de encontros bilaterais, Lula abordou a questão ambiental com chefes de estado de países como Canadá, Alemanha e França. A mensagem que ele transmitiu foi a intenção do Brasil de retomar o protagonismo nas discussões da agenda verde.
O país sempre foi considerado protagonista na área, mas essa fama se perdeu durante o governo de Jair Bolsonaro. O que Lula fez no G7 foi uma tentativa de reconstruir sua imagem, que começou antes mesmo de assumir o cargo.
O governo brasileiro também exigiu que os países honrassem seus compromissos de destinar US$ 100 bilhões por ano em ações climáticas. Ele acrescentou que não haverá solução ambiental se os países ricos implementarem soluções locais sofisticadas e as nações em desenvolvimento forem negligenciadas.
CRÍTICA AO SISTEMA FINANCEIRO E À ONU
Em seu discurso no G7, Lula foi incisivo ao criticar o modelo de decisões financeiras e políticas do mundo. Ele disse que os problemas do planeta vão muito além das questões europeias e acrescentou que as demandas emergentes precisam de atenção.
Lula declarou que a ONU não é mais capaz de mediar diferenças entre países e impedir que guerras aconteçam. Ele pede uma reformulação da organização e disse que quanto mais conflitos surgem, mais ineficaz se torna o Conselho de Segurança.
Lula também atacou o sistema financeiro e defendeu que ele seja voltado para o desenvolvimento. O presidente afirmou que o endividamento extremo de países como a Argentina provoca desigualdades extremas e que esse assunto precisa ser enfrentado. Tudo foi dito ao lado de chefes de estado das potências mundiais.