A varejista de moda chinesa Shein anunciou nesta quinta-feira, 20, que vai começar a fabricar suas roupas no Brasil, em um investimento que pode gerar 100 mil empregos em três anos. Inicialmente, a previsão é de desembolsar R$ 750 milhões para levar tecnologia e capacitação aos fabricantes têxteis brasileiros. O anúncio ocorre em meio a pressões de concorrentes locais e do governo para que as empresas chinesas paguem os mesmos impostos que as brasileiras.
O plano de produção local já havia sido antecipado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda), após reunião com representantes da empresa. “Uma coisa que é muito importante para nós é que eles vejam o Brasil não apenas como um mercado consumidor, mas como uma economia de produção”, afirmou o ministro. Em documento enviado ao governo brasileiro, a empresa indicou a intenção de investir os R$ 750 milhões.
O investimento inicial vai capacitar os fabricantes brasileiros a adaptarem seus modelos aos Shein’s, para vendas sob demanda. Ou seja, o varejista só fabrica o que vende, sem estoque. “Isso permitirá que os produtores locais gerenciem melhor os pedidos, reduzam o desperdício e reduzam o excesso de estoque”, diz um comunicado do varejista.
A meta de Shein é fazer do Brasil o “mais moderno polo de produção e exportação de tecidos da América Latina”. Para isso, a varejista chinesa pretende fazer parceria com 2.000 fabricantes locais.
Na matéria à imprensa, um dos seus fornecedores, o fabricante têxtil Naif, dá nota, afirmando que desde o início do contrato com os chineses teve “um crescimento de 120%”.
Além do investimento na fabricação no Brasil, a Shein anunciou nesta quinta-feira seu marketplace para vendedores locais, com o objetivo de atender a demanda dos clientes brasileiros por uma maior variedade de produtos. O modelo de marketplace começou a ser testado no país pelo grupo chinês no ano passado.
“O Brasil é um mercado importante para nós e estamos comprometidos em continuar apoiando o crescimento econômico e o sucesso da Shein em todo o país”, disse Felipe Feistler, gerente geral da empresa no Brasil, no comunicado.
A expectativa da Shein com os dois anúncios é que, até o final de 2026, cerca de 85% de suas vendas sejam locais, tanto de fabricantes quanto de vendedores.
Na recente viagem que fez à China, acompanhando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi questionado sobre a pressão para tributar as compras de produtos chineses. Ele afirmou que é preciso garantir tratamento igualitário entre empresas estrangeiras e brasileiras e disse que acabaria com a isenção de impostos nas compras pelo correio de até US$ 50,00 feitas por pessoas físicas. O governo até tentou essa última medida, mas, diante da reação negativa nas redes sociais, voltou atrás.
“A concorrência tem que ser justa, entre empresas brasileiras e estrangeiras”, defendeu Haddad na China. Questionado sobre Shein, Haddad disse que não conhecia a empresa e costuma comprar livros apenas na Amazon.
A empresária Luiza Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, é uma das que tem criticado publicamente a diferença de tratamento tributário entre varejistas chineses e brasileiros. Em evento recente em Porto Alegre, ela disse que é impossível competir quando a empresa nacional paga 37% de imposto ao governo e os concorrentes asiáticos não pagam nada. “Eu sempre digo que não pagar imposto é coisa da China. Isso vai tirar empregos do Brasil.”
Por Altamiro Silva Júnior