Ana Flávia Magalhães durante cerimônia de posse como diretora-geral do Arquivo Nacional, no Palácio da Justiça – Tomaz Silva/Agência Brasil
Ana Flávia Magalhães foi empossada nesta sexta-feira, 17, como diretora-geral do Arquivo Nacional. A cerimônia aconteceu no Palácio da Fazenda, no Rio de Janeiro. Na fala, a historiadora e jornalista, primeira mulher negra a dirigir a instituição, disse que vai priorizar a promoção da diversidade de raça, gênero e orientação sexual em projetos de promoção e valorização do acervo. Ela disse que o apoio de diversos setores da sociedade foi decisivo para que ela aceitasse o convite para o cargo.
“Confesso que procurei apoio para recusar, mas não tive. Em vez disso, ouvi de diferentes pessoas que são referências para mim – mulheres e homens negros, indígenas, cis e transgêneros, pessoas com diferentes orientações sexuais e origens regionais, pessoas brancas com compromisso antirracista e antissexista – que: ‘ este é um espaço que é estratégico e criámos condições para lá chegarmos. Estaremos com vocês como sempre’”.
O diretor-geral reforçou que é preciso ampliar os registros e as memórias dos grupos que, por muito tempo, ficaram escondidos do grande público.
“Temos o compromisso de trabalhar arduamente para que a missão institucional do Arquivo Nacional seja entendida como essencial para a preservação de um patrimônio nacional muito valioso: nossa memória singular, mas mobilizada no plural. Estaremos a serviço da promoção da cidadania e dos direitos humanos”.
Ana Flávia Magalhães é natural de Planaltina, região administrativa do Distrito Federal. É doutora em História pela Unicamp e mestre pela Universidade de Brasília (UnB), onde atua como professora adjunta desde 2018. Também é graduada em Jornalismo e membro das Historiadoras Negras e Historiadoras Negras Rede. Os principais temas de pesquisa são a produção político-cultural de pensadores negros, a imprensa negra e a luta racial.
A ministra da Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, participou virtualmente do evento. O Arquivo Nacional passou a ser subordinado à pasta neste ano, com a status de secretário. Dweck disse que o foco da nova gestão é melhorar a proteção do acervo documental e que confia na nova diretoria para assumir essa responsabilidade.
“Trazer Ana Flávia Magalhães para a direção do Arquivo Nacional é trazer coragem, determinação e respeito para a preservação dessas memórias. Significa também promover a educação patrimonial, a história cultural e a memória da população brasileira para que possamos enfrentar juntos o passado e a violência”.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também participou da posse e destacou a importância de cada vez mais cargos de poder no governo federal serem ocupados por mulheres negras.
“Cada vez que paro para pensar o quanto estamos defendendo a memória, me lembro de como nosso corpo é considerado um órgão descartável e, muitas vezes, somos deixados de lado. Há muito tempo lutamos muito para ressignificar a memória dos negros. Então, eu à frente do Ministério da Igualdade Racial, a Ana Flávia estando aqui, não chegamos sozinhos e não vamos sair daqui sozinhos, chegamos com muita responsabilidade”, afirmou a ministra Anielle Franco.
A filósofa Sueli Carneiro, coordenadora-executiva da Geledés, organização política brasileira de mulheres negras, disse estar confiante de que a nova direção do Arquivo Nacional poderá colocar grupos socialmente oprimidos em uma posição de destaque.
“A capacidade de escuta de Ana Flávia, somada à sua experiência profissional, acadêmica e ativista, será fundamental para que a gestão documental do Arquivo Nacional seja valorizada e ampliada, sem abrir mão da responsabilidade da instituição nesta fase de investimento público na memória como fundamento da reconstrução do país”. Sueli acrescentou que “espera ter um Arquivo Nacional democrático, aberto, plural e atuante no enfrentamento do racismo, das desigualdades de gênero, da colonialidade e do epistemicídio [ocultação de construções culturais e sociais]”.