O Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou nesta terça-feira (18) que os familiares de Marielle Franco tenham acesso às provas do inquérito que apura as encomendas do assassinato do vereador do Rio de Janeiro e do motorista Anderson Gomes.
A decisão foi motivada por um recurso interposto pela família de Marielle contra uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que impediu o acesso. O processo é acompanhado pela defesa de Mônica Benício e Marinete da Silva, viúva e mãe de Marielle, e Agatha Arnaus, viúva de Anderson.
A Justiça do Rio de Janeiro entendeu que, como auxiliares do Ministério Público, os advogados da família só podem ter acesso às investigações após o recebimento da denúncia, ou seja, somente quando da instauração da ação penal. O caso está atualmente na fase de investigação.
Na manifestação feita na tribuna colegiada, a advogada Luciana Pivatto, representante das famílias, disse que o julgamento é fundamental para saber quem matou a vereadora e o motorista. Para o defensor, o acesso às provas não pode ser negado pela Justiça.
“Não há como sugerir que o acesso de familiares representaria um risco para as investigações. Os peticionários, como familiares das vítimas, são os maiores interessados na preservação do sigilo, na efetiva condução das investigações, pois desejam e têm dedicado suas vidas para fazer justiça para Marielle e Anderson”, afirmou.
Repórter
Ao analisar o recurso, o ministro Rogério Schietti, relator da petição, entendeu que a família tem direito de acesso às provas já documentadas.
“O direito de acesso da vítima ao que consta no inquérito policial decorre diretamente do princípio republicano. É medida essencial para que o ofendido garanta o direito à verdade, à memória, à justiça e à devida reparação”, argumentou.
Schietti também afirmou que o assassinato de Marielle foi cometido por agir em favor das comunidades.
“Esse duplo homicídio não foi cometido apenas porque se tratava de direitos humanos, mas também porque era uma pauta liderada por uma mulher da periferia, negra e bissexual. Ingredientes que, numa cultura patriarcal, misógina, racista e preconceituosa, potencializam a reação de quem se sentiu incomodado, seja pelas denúncias feitas no exercício do mandato parlamentar, seja pela postura de uma mulher que, representando minorias, confrontou milicianos e policiais envolvidos na violação reiterada e permanente dos direitos das pessoas que vivem em comunidades no Rio de Janeiro”, afirmou.
A votação foi seguida por unanimidade pela Sexta Turma.
execução do crime
Em outro caso da investigação, o policial militar aposentado Ronnie Lessa deve ser levado a júri popular. Ele é acusado de ser um dos executores dos assassinatos.
No dia 14 de março de 2018, Marielle Franco e Anderson Gomes foram baleados dentro do carro que dirigiam na região central do Rio de Janeiro.