Viagem reforça protagonismo de Brasil e China no cenário internacional

Presidente classificou a visita como “extraordinária”. Foto: Ricardo Stuckert
O balanço da viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China e aos Emirados Árabes Unidos pode ser feito de várias maneiras. O viés comercial foi importante, com investimentos e acordos acertados, e essa foi a parte fácil. Todos têm a ganhar.
O presidente classificou a visita como “extraordinária”. Na China, os acordos somam R$ 50 bilhões e, nos Emirados Árabes Unidos, mais de R$ 12 bilhões. “E o que é mais importante do que a quantia em dinheiro é a possibilidade de novos acordos que podem ser feitos. Não só do ponto de vista comercial, mas do ponto de vista cultural, digital, educacional”, avaliou em entrevista coletiva neste domingo, 16, em Abu Dhabi.
Os termos assinados entre os dois países incluem acordos de cooperação espacial, pesquisa e inovação, economia digital e combate à fome, troca de conteúdos de comunicação entre os dois países e facilitação do comércio.
Diplomacia
Outro aspecto da viagem diplomática diz respeito ao início do relacionamento entre Lula e Xi Jinping, o líder chinês. Apesar de a relação ser entre governos, é inegável que uma certa simpatia mútua ajuda. E aconteceu. Além da conversa entre as duas delegações, houve outra, privada, entre ambas. A reunião privada, que estava marcada para durar 15 minutos, durou bem mais de uma hora.
O mundo inteiro está curioso com os resultados desse encontro, porque duas questões importantes dependem muito de iniciativas do Brasil e da China. A primeira delas é a guerra na Ucrânia. A segunda é o ambiente. São complexos, dependem de muita diplomacia, diálogo e são urgentes.
No caso da guerra na Ucrânia, a posição de Lula é que é preciso formar um grupo de países neutros, respeitados por ambos os lados, para trazer a Rússia e a Ucrânia para a mesa de negociações. E de todos esses países, o mais importante é a China, pois desde as sanções contra sua economia, a Rússia ficou ainda mais dependente dos chineses.
“A decisão de guerra foi tomada por dois países. E agora o que estamos tentando construir é um grupo de países que não estão envolvidos na guerra, que não querem a guerra, que querem construir a paz no mundo, para conversar tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia. Mas também temos que levar em conta que é preciso conversar com os Estados Unidos e a União Européia”, afirmou Lula. Ele também disse que pretende envolver os países latino-americanos.
Convencer a China a liderar esse grupo também é, de certa forma, garantir que ele, que é o quarto maior produtor de armas do mundo, não venda material bélico para a Rússia. Se isso acontecer, será muito difícil ver o fim desta guerra, que, além do enorme sofrimento que produziu, teve efeitos muito ruins na economia mundial.
A Rússia e a Ucrânia são grandes produtores agrícolas e a guerra está fazendo com que os preços de muitos alimentos subam. Há também a questão energética. Sem comprar o gás que vem da Rússia, os países europeus gastam três vezes mais para importar o gás que tem que chegar por navio.
Se você adicionar o custo de enviar armas e sustentar a enfraquecida economia ucraniana, esse gasto de dinheiro é insustentável para muitos países europeus. Mas também não se pode exagerar na expectativa de que a China possa resolver o problema.
Esporte como exemplo
A China, que tem tido uma capacidade extraordinária de crescer a taxas de causar admiração e inveja, parece ter um poder decisivo. Porém, um assunto que o Brasil conhece muito bem mostra que, às vezes, querer é não conseguir. Estamos falando de futebol.
O líder chinês Xi Jinping ganhou destaque ao organizar com sucesso as Olimpíadas de Pequim em 2008. Entusiasmado com o poder do esporte em termos de popularidade e influência na sociedade, decidiu apostar no futebol, que poderia render mais sucesso. ainda.
Ele planejou que o esporte recebesse investimentos para tornar a China uma potência mundial. Logo após os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, o mercado chinês se encheu de dinheiro milionário e começou a importar jogadores. O plano era construir 70.000 campos de futebol e ter uma base de 50 milhões de chineses jogando futebol. E mais: eles queriam sediar uma Copa e vencer o torneio até 2050.
Tal ambição foi rapidamente derrotada pela dificuldade de se criar uma cultura futebolística, um esporte que, mais do que disciplina e ordem, exige e depende de criatividade e liberdade. Com isso, não só o sucesso não veio, como o presidente da federação chinesa de futebol foi preso em fevereiro deste ano, e há sérios problemas ligados à corrupção. O futebol masculino é patético e só as mulheres mostraram um futebol razoável.
A bola de futebol chinesa murchou. Este pequeno exemplo mostra que talvez seja mais realista e necessário unir vários países, cada um contribuindo um pouco para a resolução de complexos problemas mundiais. É cada vez mais difícil para qualquer superpotência impor sua vontade. Outros atores importantes pedem passagem no cenário internacional. Isso inclui o Brasil e especialmente a China.